Além das justas homenagens, o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é uma data que deve ficar marcada também (ou principalmente) pelas reflexões sobre as lutas femininas ao longo da história, em todas as áreas da sociedade, inclusive no campo da educação e da ciência.
Há inúmeros casos de descobertas e inovações de fundamental importância que tiveram a marca indelével das mulheres. Recentemente, um feito notável chamou a atenção do público brasileiro sobre a participação feminina na Ciência: o sequenciamento do novo Coronavírus, realizado em tempo recorde pelas pesquisadoras Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, da Universidade de São Paulo (USP), que ajudou a destacar a qualidade da produção científica que as mulheres vêm desenvolvendo, apesar dos desafios inerentes a um país que não investe consistentemente no trinômio inovação, ciência e tecnologia, e das barreiras que se erguem à frente das pesquisadoras.
No Brasil, testemunhamos a desigualdade de oportunidades entre os gêneros. No ensino superior, elas ainda são minoria entre os docentes: cerca de 46% (embora sejam maioria entre estudantes de graduação e de pós-graduação, e tenham a maior quantidade de títulos de mestrado e de doutorado).
As barreiras impostas às mulheres na sociedade também se refletem dentro do comando das instituições de ensino superior. Para elas há menos oportunidades para assumir cargos de chefia e gestão. Apenas 30% das universidades federais têm uma mulher à frente, como reitora.
Nas entidades científicas, a situação é ainda mais complicada: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa no Brasil, nunca teve uma mulher como presidente.
Até na distribuição de recursos há um abismo a ser superado: apesar de conseguirem a maioria das bolsas de iniciação científica (59%), recebem apenas 35,5% das bolsas de produtividade, as mais prestigiadas, com financiamento maior. Dentro desse grupo, existem as bolsas 1A, as mais altas, que só contemplam 24,6% de mulheres. O ‘efeito tesoura’ é um mecanismo que expulsa as mulheres da pesquisa científica nacional.
Desafios
Ao longo da história, as mulheres foram secundarizadas e sistematicamente excluídas dos ambientes de produção científica. Apesar de sua inserção no mundo da Ciência, tarefas de cuidado, trabalhos domésticos e jornada tripla ainda sobrecarregam e prejudicam as suas carreiras. Um levantamento do Parent In Science mostrou que a pandemia de Covid-19 afetou mais a produtividade acadêmica de mulheres negras (com ou sem filhos) e das mulheres brancas com filhos (principalmente com idade até 12 anos) do que a de homens.
Cabe destacar também que muitas vezes as mulheres são invisibilizadas pelos seus próprios pares na academia e, por isso, não conseguem se destacar ou avançar com suas pesquisas.
Esses são alguns dos desafios que devem ser enfrentados coletivamente. Por isso, vale ressaltar a importância de iniciativas como a da deputada federal Alice Portugal (PCdoB/BA), responsável pela Lei 13.536/2017, que prevê a prorrogação da bolsa para pós-graduandas que derem à luz, adotarem crianças ou obtiverem a guarda judicial de crianças para fins de adoção. A parlamentar também é autora de um projeto que criou o Prêmio Mulheres na Ciência Amélia Império Hamburger. Todo ano, três cientistas serão premiadas por suas contribuições nas áreas de ciências exatas, ciências naturais e ciências humanas.
Por mais mulheres na Ciência
Foram várias mulheres que lá atrás se dedicaram às ciências em uma época em que a formação feminina era direcionada para os cuidados do lar e os estudos eram privilégios dos homens. Elas romperam barreiras e abriram caminho para outras gerações terem seu direito à educação assegurado.
Hoje, as mulheres que atuam na Ciência são exemplo e inspiração para as novas gerações de estudantes que sonham em ser cientistas.
Fonte: APUB