Na manhã de hoje, 16 de setembro, teve início o ciclo APUB debate o Brasil com a mesa “Como vota o brasileiro”, que contou com as exposições de Daniela Campello e Oswaldo Amaral, ambos cientistas políticos, tal como o professor Márcio André dos Santos (Malês/UNILAB), responsável pela mediação.
Antes de iniciar a discussão, o professor Daniel Peres (FFCH/UFBA), membro do Conselho de Representantes da APUB, sobre a proposta do ciclo promovido pelo sindicato. “A ideia é oferecer à nossa comunidade um espaço de discussão trazendo para conversar conosco pessoas que tem trânsito na academia, mas também uma presença forte no debate público, na elaboração, no desenho de políticas públicas”, explicou.
Daniela Campello, professora e pesquisadora em Política e Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, iniciou sua exposição destacando que “as eleições presidenciais são referendo sobre desempenho econômico do presidente, algo comum no Brasil, na América Latina e no resto do mundo”, acrescentando que as eleições de 2018 foram uma exceção devido a múltiplos fatores. Para ela, três fatores são preponderantes para entender como o eleitorado vota: a questão econômica, o eleitor olha para como está sua vida – se melhorou ou piorou; a memória curta, o que aconteceu antes não importa; e atribuir toda a responsabilidade ao presidente, principalmente da situação econômica, mesmo que esta seja muito influenciada pelas questões externas.
Na sequência, ela apresentou como a popularidade do atual governo alterou ao longo do mandato de acordo com a situação econômica da população, considerando aspectos como o pagamento de auxílio emergencial e Auxílio Brasil. Também analisou o cenário eleitoral com base nesses fatores e afirmou que o governo Bolsonaro foi uma mistura de muita incompetência com azar (pandemia e crise econômica no mundo), e por isso ele está, possivelmente, fadado a ser o primeiro presidente a não ser reeleito desde a redemocratização. “Se a gente tivesse passado durante este governo pelo boom das commodities, como no início dos anos 2000, Bolsonaro teria chance de ser reeleito, mesmo com todo ataque à democracia, discurso de ódio contra diversos grupos e desmantelamento das instituições”, avaliou.
Por fim, Daniela destacou que, na sua opinião, não há uma consistência no bolsonarismo como fenômeno eleitoral, retórico ou institucional. “A eleição de Bolsonaro uniu um conjunto de grupos distintos que não só queriam coisas diferentes, como eventualmente queriam coisas conflitantes. Mas, nessa eleição, vamos ter uma ideia melhor, já que o voto econômico é contra Bolsonaro, e o voto dos “valores” é a favor dele”.
Para concluir, ela aponta que é preciso desenvolver mecanismos para separar sorte de mérito no que diz respeito à atuação econômica dos governos, do contrário não é possível, inclusive ao eleitorado, avaliar e comparar governos com receitas distintas e sujeitos à alta volatilidade econômica.
A exposição do professor da UNICAMP, Oswaldo Amaral trouxe dados de pesquisas sobre as características do eleitorado de Bolsonaro e o que explica a resiliência desse grupo mesmo diante de um contexto político e econômico adverso. Os dados apontam que haveria uma percepção autoritária da sociedade sobre a política, comum ao grupo bolsonarista, que tem um perfil social mais conservador, especialmente em temas como gênero, sexualidade, e rejeitam majoritariamente cotas raciais. Haveria ainda um componente de reacionarismo em relação às pequenas mudanças que tivemos nos últimos anos. O argumento central do professor é de que sempre houve uma demanda por uma força política conservadora socialmente e autoritária politicamente, mas o sistema partidário agia como freio até 2018 e uma espécie de acordo desde a constituinte dentro dessa estrutura partidária, rompido em 2014 quando o PSDB recusa aceitar os resultados das eleições. Esse freio que barrava figuravas autoritárias como alternativa eleitoral viável deixou de existir.
Em relação ao bolsonarismo, aponta que “de fato, temos um grupo relativamente coeso do ponto de vista de valores, de como enxerga a sociedade e agora tem um ponto central que é Bolsonaro. Pode não ser ele, mas alguém vai herdar. Esse grupo sozinho não ganha eleição, mas é uma força política que veio para ficar, embora minoritária”, dialogando com a avaliação da professora sobre a questão.
O debate continuou com interação e perguntas do público. A atividade foi transmitida ao vivo e está disponível na íntegra. Acesse aqui para assistir.