Com prefácio do psicanalista e professor de História, Cláudio Carvalho, o escritor e jornalista Emiliano José lança dia 8 de junho, às 18h, no Othon Palace Hotel em Ondina, o quinto volume da coleção “Galeria F – lembranças do mar cinzento”. Com o título “A última clandestina em Paris e outras histórias” ele resgata a saga de Maria José Malheiros, a militante da Ação Popular que viveu 40 anos com um nome falso, inicialmente pela sobrevivência e depois pela estabilidade da vida no exílio. Claudio Carvalho , membro da Associação de Psicanálise da Bahia, chama atenção para a predominância de personagens femininas, num momento em que o patriarcalismo brasileiro abre as portas do inferno ao derrubar a primeira mulher eleita presidente do Brasil.
Como num thriller, Emiliano José resgata os deslocamentos de Maria José, Zezé, por Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul “sempre dividida entre a liberdade perseguida com a missão revolucionária e o desejo a despontar no corpo franzino de mulher”, segundo o texto de Carvalho. “Como é que se pode ter medo de algo que aconteceria no passado e não aconteceu?”. Esse efeito de suspensão temporal, presente na narrativa, transcende o registro imediato ou investigativo da matéria jornalística, sobrepõe-se à mera retenção de um fato histórico. O que Emiliano transmite pela escrita é antídoto a toda forma de niilismo.
A História de Maria José Malheiros é contada no primeiro capítulo, intitulado “A cruel solidão da clandestinidade”, décadas vivendo a vida com nome frio, nome de guerra, falso, e que só vai emergir em outubro de 2013, ao ser anistiada pela Comissão Nacional da Anistia, do Ministério da Justiça. Naquele 24 de outubro Zezé andou pela primeira vez sem aquela sensação de medo ao andar pelas ruas de São Paulo. Foi então que, passados 40 anos, ela sentou-se para almoçar com amigos no Restaurante Itamaraty, no Largo de São Francisco e então chorou. Uma história fascinante. É aqui que o leitor percebe que a ditadura deixa marcas profundas.
Na conta de “outras histórias” do título, o autor narra trajetórias de revolucionários e revolucionárias que também enfrentaram a ditadura militar e sobreviveram às torturas e à prisão. Emiliano José resgata a história de Jacy da Franca Soares, psicanalista e psicopedagoga, presa grávida na ditadura. Resgata a história do casal José Carlos Zanetti e Cleuza Ione Borges Zanetti, que se casaram na prisão e trocaram muitas cartas de amor; a cearense Mirtes Semeraro Nogueira, que teve as pernas queimadas com ácido; a dor de Tessa, que não teve o direito de enterrar o pai, Gildo Macedo Lacerda, assassinado na tortura e desaparecido; a tragédia de Maria Auxiliadora Lara Barcellos, atormentada pela tortura; e as três psicólogas que encontraram a morte na luta contra a ditadura: Iara Iavelberg, Pauline Philipe Reichstul e Aurora Maria Nascimento Furtado .
Emiliano José organiza o livro em seis capítulos. O capítulo 4 é dedicado a Jorge Fonseca Sanches de Almeida, hoje importante cientista político e filiado ao PSOL, ex-dirigente da AP, fundador do PT, mas, nos anos de chumbo, simplesmente “Macarrão”. Entrou para a Ação Popular pelas mãos do jornalista Otto Filgueiras. Em 1970 dirigiu uma ousada pichação pelos muros de Salvador: “Liberdade para Emiliano” seu dirigente na AP e que já estava preso. “Macarrão” descobre-se comunicador, edita o jornal ADECTO, voltado para a área de saúde da UFBA. O nome do jornal referia-se a um medicamento brando que acalma os efeitos de um medicamento enérgico. O jornal explode na universidade combatendo a pena de morte decretada pelos militares contra Theodomiro Romeiro dos Santos. O autor resgata a prisão, torturas, interrogatório de Macarrão, um militante que resistiu sem delações. Ao final, registra a história de Amilcar Lobo, o quase-psicanalista que serviu aos torturadores do DOI-CODI, na famigerada Casa da Morte, em Petrópolis.
SERVIÇO
Título: “Galeria F – lembranças do mar cinzento; a última clandestina em Paris e outras histórias”
Autor: Emiliano José
Lançamento: 8 de junho de 2017
Local: Othon Palace Hotel, Ondina,
Hora: 18h