João Augusto de Lima Rocha, Professor da Escola Politécnica da UFBA
Desaparecido a 05 de dezembro, prestes a completar 105 anos, na mesma data em que seu companheiro de Partido Comunista do Brasil (PCB), Carlos Marighella, completaria 101 anos de nascimento, Oscar Niemeyer era o mais conhecido e festejado arquiteto da atualidade. Projetou-se, enquanto profissional, a partir da construção do Conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, a convite do então prefeito daquela capital, Juscelino Kubitscheck, na década de 1940. Autor do projeto arquitetônico dos principais prédios públicos de Brasília, onde deixa sua indefectível marca poética nas fachadas futuristas, Niemeyer contribuiu para compor, assim, o plano urbanísitico da então nova capital, a cargo do não menos importante arquiteto e urbanista, seu companheiro de trabalho Lúcio Costa.
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O cálculo estrutural de suas ousadas obras, em que a plasticidade do concreto armado veio a encontrar singulares aplicações, era um grande desafio para os engenheiros calculistas, principalmente no período anterior aos sofisticados métodos computacionais, hoje em voga. Teve ele, em Brasília, um poeta e engenheiro como seu principal calculista estrutural, o pernambucno Joaquim Cardozo, autor do famoso livro O Coronel de Macambira. O calculista mais recente de suas obras é um engenheiro muito bem formado culturalmente, que com ele dialogava intensamente. Trata-se do professor e autor de diversos livros na área de engenharia estrutural , o carioca José Carlos Süssekind.
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A arquitetura de Oscar Niemeyer, que inclui projetos de edifícios residenciais e um hotel, aqui na Bahia, projetou-se internacionalmente através de um estilo identificado por fachadas contendo elementos curvos. A valorização da curva, segundo dizia, vinha por conta da herança de sensualidade que a paisagem do relevo carioca havia instalado em seus olhos.
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A trajetória do arquiteto tem sido bastante destacada noticiário, mas o seu exemplo de vida é o principal objeto deste artigo. O fim da vida, em particular, foi enfrentado por ele com excepcional naturalidade, tanto que contribui para consolidar em nós a concepção de que a morte não é um corte trágico, mas uma continuidade, talvez até uma aceitável necessidade da natureza.
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Pelo que consta, era notória a capacidade de Niemeyer de descolar a mente, sempre lúcida, do corpo em decadência que, segundo confessa agora o auxiliar de enfermagem que o acompanhou diariamente, nos últimos seis anos, até um samba acabou sendo composto por ambos, dentro da UTI onde se encontrava desde o dia 02 de novembro último!
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As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swifit, é um livro que, segundo nosso mestre maior da engenharia, Fernando Lobo Carneiro, tem muito a ver com a engenharia estrutural, por conta de que, tanto os anões do país de Lilipute quanto os gigantes do país de Brobdingnag revelam impossibilidades físicas, por conta de questões ligadas à escala de suas dimensões. A reflexão sobre essas questões foram muito importantes para o projeto de modelos reduzidos, de que os engenherios muito nos valemos na elaboração de projetos.
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No entanto, há na obra de Swifft a descrição de uma viagem menos conhecida, ao país de Luggnagg, onde nasciam, excepcionalmente, seres dotados de imortalidade, os struldbrugs, sobre os quais se aguça a curiosidade de Gulliver, ao ponto de conseguir um diálogo com eles, no intuito de tirar proveito para si daquela estranha propriedade. Descobriu Guliver que, “de ordinário, eles se haviam como mortais até os trinta anos; depois dessa idade senhorevam-nos, gradativamente, a tristeza e o desalento. Quando completavam oitenta anos de idade, idade tida nesse país como limite máximo da vida, tinham não só toda a insensatez e todas as enfermidades dos outros velhos, senão muitas outras,nascidas da medonha perspectiva de nunca morrer”.
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Eis aí onde entra a relação de Oscar Niemeyer e sua extraordinária concepção de vida, com o conhecimento de Lugg