Ciclo de debates da Apub se encerra com avaliação da Conape e CRES

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A última atividade do Ciclo de Debates organizado pela Apub em preparação para o I Congresso Docente do Sindicato e para o XIV Encontro Nacional do PROIFES pautou a avaliação da Conferência Nacional Popular de Educação – Conape e da Conferência Regional de Educação Superior da América Latina e Caribe – CRES, bem como seus desdobramentos. A discussão abordou os encaminhamentos das duas conferências – que, de maneira geral, expressaram a compreensão da educação pública como direito humano e dever do Estado – a necessidade de articulação para que estes sejam efetivamente implantados e o papel da Universidade nesse contexto.

Além da presença dos professores e professoras da base, incluindo delegados/as eleitos/as para o Encontro do PROIFES, o Seminário teve a participação do professor Silvio Solglia, reitor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), professora Joana Guimarães, reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), professor Sérgio Farias, assessor da reitoria da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), representando a reitora Iracema Veloso e a professora Suani Pinho, chefe de Gabinete da reitoria da UFBA, representando o reitor João Carlos Salles.

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A introdução do Seminário foi realizada pela diretora acadêmica da Apub, professora Raquel Nery, que relatou os principais acontecimentos e debates ocorridos nas duas conferências e o teor geral das resoluções finais aprovadas. Ao final, pediu aos/as convidados/as que pensassem como a universidade pública se posiciona em relação aos dois eventos, qual a força política que existe para que os encaminhamentos se tornem ações, além do papel político dos documentos e manifestos que sempre resultam de eventos como esses.

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O reitor Silvio Soglia fez uma breve análise de conjuntura, partindo da experiencia neoliberal da década de 1990, quando as universidades passaram por arrocho e desmonte até a modificação dessa política com os investimentos realizados durante os governos Lula e parte do governo Dilma Rousseff, que proporcionaram expansão e interiorização. “Tivemos então uma quebra abrupta inesperada desse processo”, disse. Para ele, atualmente a questão econômica não é sequer o maior obstáculo a ser enfrentado, mas sim a narrativa de desvalorização e desqualificação que o serviço público – universidade incluída – enfrenta. “Dói a gente ouvir dizer na grande mídia que nós somos ineficientes, caros, custosos para o estado. Como enfrentar essa grande mídia e essa narrativa com os meios que temos?”, questionou. Outra questão de difícil enfrentamento no contexto atual é a quebra da autonomia universitária. “Aí entra outro ator desse processo que é o judiciário. É impressionante a força que setores do judiciário têm hoje para interferir na universidade pública brasileira”, falou Soglia. E lamentou: “Eu como gestor hoje respondo a pelo menos um ofício por dia ao Ministério Público. É uma cogestão de quem não conhece absolutamente nada da universidade pública brasileira. Isso na minha visão é muito mais duro de enfrentar”. Ressaltou, entretanto, que iniciativas como a Conape a CRES e os documentos nelas gestados são extremamente necessários: “porque, de uma certa forma, nossa sociedade também carece dessa avaliação mais profunda e de demarcar uma posição política do que queremos da nossa universidade”.

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Sem deixar de concordar com Soglia a respeito da importância dos documentos, a reitora Joana Guimarães ponderou que “a gente está falhando muito em tirar do papel o que sai desses documentos”. Ela considerou que as discussões durante a CRES foram muito ricas, porém apontou algumas críticas ao evento, como a sub-representação de estudantes e servidores/as técnicos-administrativos/as nas mesas debate e de mulheres na reunião final de reitores. “A Conferência estava celebrando o centenário da reforma de Córdoba – na foto de 1918, só havia homens, na foto atual também. Ainda há muito o que fazer”, disse.

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Avaliando para além das conferências, ela disse acreditar ser necessário um duplo movimento, distinguindo o que deve ser feito em relação à crise atual do pensamento sobre o que a Universidade é e pretende ser. Também dialogando com Soglia, ela falou sobre as dificuldades financeiras e de gestão, agravadas após o golpe de 2016: “antes tinha uma carência de recursos, mas havia pelo menos um interlocutor que entendia o que você estava falando. Hoje nem isso, não temos nem dinheiro nem interlocução. Esse é um aspecto da manutenção da universidade. Mas outro aspecto é da Universidade em si. Para mim, é uma as instituições mais conservadoras que eu conheço”. De acordo com a reitora, a Universidade – e a classe média que pertence a ela ou aspira pertencer – tem promovido a manutenção de um certo status como local exclusivo de produção de conhecimento. Ela acredita que a instituição precisa reaprender a fazer inclusão considerando as populações socialmente excluídas como sujeitos que também produzem conhecimento têm contribuições a dar. “A sociedade não enxerga a universidade como algo que lhes pertença porque de fato não pertence; eu acho que essa é a principal reflexão que a gente tem que fazer esse momento, como a gente faz esse movimento da universidade para que ela possa incluir sem excluir?”.

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O professor Sérgio Farias, por sua vez, expôs que existe um sentimento na UFOB de defesa da educação de qualidade e de uma universidade autônoma, mas ressaltou que a luta pela educação superior não pode estar desvinculada da luta pela democracia. A professora Suani Pinho destacou que é preciso fazer com que as resoluções tomadas nos eventos não fiquem em ambientes restritos. Ela falou sobre a importância da comunicação e da necessidade de criar mecanismos criativos para ampliar as vozes e envolver a sociedade na defesa da universidade também da ciência e tecnologia. Nesse mesmo sentido, a professora Raquel Nery apontou os desafios na mobilização da categoria docente e da organização de formas efetivas de ação política. Outra questão abordada no Seminário foi levantada pela professora Luciene Fernandes, presidenta da Apub: “apesar do documento [da CRES] ser bem melhor do que a gente imaginava, deve olhar um pouco as entrelinhas também. Saber o quanto que se deixou de dizer também nesses documentos, inclusive porque isso faz a diferença na implementação dessas políticas”. Positivamente, ela destacou as discussões sobre as ações afirmativas e as denúncias feitas por representantes de comunidades quilombolas e povos originários que ajudaram a politizar ainda mais a Conferência. Propôs, por fim, que todos e todas pudessem levar as reflexões ali realizadas para seus espaços de atuação.

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