Instituto segue interditado até a realização de procedimentos de descontaminação por empresa especializada
O Instituto de Química da UFBA (IQ/UFBA) está interditado desde a manhã desta terça-feira, 09 de abril, após o vazamento da substância 1-pentanotiol. O incidente aconteceu em um laboratório do quinto andar, mas o cheiro forte do composto se alastrou rapidamente por todo o prédio. O incidente levanta debate sobre o formato de elaboração dos laudos técnicos que embasam o recebimento de adicionais laborais como insalubridade e periculosidade para docentes e servidores técnico-administrativos.
Além do corte recente dos adicionais devido a atraso na migração para o sistema SIAPE Saúde (veja aqui os detalhes), a Apub já vinha recebendo reclamações de docentes que tiveram seus adicionais suspensos devido a laudos negativos ou inconclusivos. Os laudos, elaborados por servidores do Serviço Médico Universitário Rubens Brasil (SMURB) da UFBA e levam em consideração dados como a toxidez das substâncias e o nível de exposição. Os resultados, porém, nem sempre têm considerado que o risco não se restringe aos ambientes de laboratório. De acordo com o professor Dirceu Martins, Diretor do Instituto de Química, existem problemas nos procedimentos que guiam a elaboração desses laudos: “as engenheiras do trabalho fizeram um laudo da Unidade e, em quase todos os ambientes, colocaram que não há insalubridade, nem periculosidade. O equívoco cometido nesta análise está em fazer a avaliação por ambiente isolado de trabalho, como se cada sala ou laboratório tivesse desconectado do resto. Mesmo nas salas que são destinadas à administração, aos colegiado de curso, secretarias de departamentos, o ambiente é tão periculoso quanto um laboratório porque ele está dentro do prédio. O Instituto de Química realiza atividades que geram vapores, geram riscos que são concernentes ao prédio todo, tanto é que o prédio está todo interditado, apesar do incidente ter ocorrido no quinto andar”, disse.
Como foi o incidente. O 1-pentanotiol, um composto de enxofre de baixa toxidez, porém com cheiro intenso, pode ser utilizado como padrão para análises ambientais. Um frasco de vidro com capacidade para conter até 25 gramas do produto estava guardado em um freezer a uma temperatura de -78°C, juntamente com cinco frascos contendo produtos químicos da mesma classe. Este freezer foi movido do primeiro para o quinto andar, necessitando ficar um período desligado, devido à movimentação; entretanto, o frasco contendo o 1-pentanotiol apresentava uma folga na tampa, o que teria permitido o vazamento do produto para o interior de uma caixa plástica que estava guardada no freezer. Devido à volatilidade do composto à temperatura ambiente, com a abertura da porta do freezer, o mesmo se expandiu rapidamente para todo o ambiente. “O problema é que o frasco que continha a amostra não estava vedado corretamente”, explicou o diretor. “Então esse procedimento inadequado foi feito por alguém lá atrás e a gente só não sentia cheiro porque o produto estava armazenado a -78° graus”. O contato tópico ou por inalação do 1-pentanotiol pode causar dor de cabeça, náuseas e reações alérgicas, como vermelhidão na pele. Os sintomas são transitórios. Uma servidora terceirizada, que limpava a parte externa do freezer, utilizando luvas de proteção, no momento da expansão do composto para o ambiente, apresentou reação alérgica em um dos antebraços e foi atendida na UPA do Vale dos Barris, onde ficou em observação até a melhora dos sintomas. De acordo com o professor Dirceu, ela se encontra bem e sua condição de saúde está sendo monitorada.
Descontaminação. Logo após o incidente, as engenheiras de segurança no trabalho do SMURB e o Coordenador de Meio Ambiente da SUMAI compareceram no Instituto de Química e acionaram o Corpo de Bombeiros de Salvador, que interditou o prédio devido à persistência do cheiro. Conforme explicou Dirceu, embora a situação já esteja controlada e não haja riscos iminentes à saúde para a comunidade universitária, o prédio só será liberado após a realização de um procedimento de descontaminação do ambiente e descarte dos resíduos gerados no incidente por uma empresa especializada, pois o ambiente ficou impregnado com a substância: “por exemplo, tem um pallet de madeira embaixo do freezer, então, provavelmente o cheiro ficou impregnado na madeira. Será necessário descartar de maneira correta, por empresa que tenha licença ambiental. Então esse é o quadro. Até não é grave, mas poderia ser mais grave se fosse outro tipo de substância que tivesse vazado”, disse.
Por enquanto, o acesso ao prédio do Instituto de Química está liberado apenas para professores ou técnicos que tenham que buscar material didático ou de pesquisa, objetos pessoais ou para fazer manutenção em equipamentos. “Então é possível entrar, realizar o serviço e sair, não é para permanecer o dia todo lá”, afirma o diretor. Para estudantes, o acesso não está permitido em nenhuma circunstância. Ainda não há prazo definido para liberação do acesso e permanência de todos. “A empresa tem que fazer a descontaminação e entregar um laudo dizendo que o ambiente está livre para que eu possa entregar aos bombeiros para eles liberarem o acesso ao prédio. Porque eu tenho preocupação com a saúde das pessoas, com os órgãos de controle ambiental e com o Ministério Público Federal”, disse Dirceu.