Em reunião que antecedeu o início do V Encontro do Movimento Pedagógico Latinoamericano, que começou nesta terça-feira, 3 e tem duração até a quinta-feira, dia 5, em Curitiba (PR), sindicatos de docentes da educação superior da América Latina debateram conjuntura e definiram ações para aproximar os movimentos sindicais de países desta região.
A ideia é realizar encontros periódicos para debater pautas comuns, e avaliações sobre o trabalho docente em países latinoamericanos sobre temas como condições de trabalho, avanço da mercantilização e financeirização da educação superior no continente, além do desenvolvimento de um site no qual os sindicatos docentes compartilharão análises, informes de conjuntura e uma agenda de ações.
Retroessos na AL
A reunião contou com informes sobre a conjuntura política, sindical e as condições das universidades públicas nos países da região. O presidente do PROIFES-Federação, Nilton Brandão (SINDIEDUTEC-Sindicato) iniciou registrando que o governo de Jair Bolsonaro elegeu a educação superior pública como um de seus principais inimigos, e fez um breve resumo elencando uma série de retrocessos sociais no Brasil, destacando as reformas trabalhista e da previdência, o Future-se e a Emenda à Constituição 95, que congelou investimentos sociais por vinte anos. “No Brasil vivemos em constantes sobressaltos, quando estamos focados em uma luta, vem uma outra medida do governo em sequência, e temos que readequar as forças para fazer a luta novamente. E são lutas fundamentais, pois os retrocessos ameaçam a autonomia universitária, com o Future-se, e a estabilidade dos servidores, com a reforma administrativa”, salientou Brandão.
Já Glória Arboleda, da Colômbia, destacou a grande mobilização universitária realizada no país no ano passado, reunindo estudantes, professores e trabalhadores, e registrou a avaliação de que o acordo realizado com o governo após esta manifestação vem sendo cumprido, ainda que com pontos a avançar. “Cumpriram com os financiamentos para as universidades, mas manteve-se o problema da precarização da atividade docente, com muitos docentes contratados como temporários, e os recursos não permitem oficialuzar a contratação formal da maioria, só de uma pequena parte”, disse Glória.
O representante da República Dominicana, Adriano Silvério, explicou que seu país vive uma forte onda de privatização, que lentamente avança para as universidades. “Quase todas as empresas públicas foram privatizadas, em um governo fortemente centralizador, e o poder Executivo, Legislativo e Judiciário dominaram o espectro eleitoral nacional e municipal, de modo que há uma alta concentração de poder no projeto neoliberal. O plano privatizador das universidades está caminhando, estamos entrando em um período eleitoral que talvez nos traga um elemento diferente, mas o panorama para a educação pública não é muito promissor”.
Na Argentina, com a recente vitória do governo progressista de Alberto Fernández a situação é mais favorável, mas ainda há uma situação muito grave no interior do país destruído por quatro anos de política neoliberal de Fernando Macri, com muita gente abaixo da linha de pobreza, desemprego superando os dois dígitos, e uma enorme dívida externa com o Fundo Monetário Interacional, explicou Carlos De Feo. “Serão meses e um primeiro ano muito difíceis, porque as pessoas tem muita expectativa com este novo governo, os aposentados estão com recursos pressionados, os programas sociais também estão comprimidos, a capacidade ociosa da indústria está em mais de 50%, mas estes quatro anos de governo neoliberal serviram para ampliarmos a unidade dos movimentos populares, especialmente dos trabalhadores. As centrais se reuniram, e as manifestações dos setores universitários, depois de muito tempo, voltaram a incluir os sindicatos”, frisou De Feo.
Entretanto, o secretário geral da Federación de Docentes Universitários da Argentina (CONADU) lembrou que ainda a um grande trabalho a fazer nossa movimento sindical docente lationoamericano. “Temos que fazer uma luta nas universidades que estão em disputa com os movimentos conservadores, e começar a pensar em um projeto em que possamos expandir estas experiências exitosas de lutas para outros países da região”, concluiu De Feo.
Foi pré-agendada uma reunião na primeira semana de março, ainda em país a definir, para ampliar a aproximação, troca de experiências, avaliações e lutas entre os países da América Latina.