APUB SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA

De mãos dadas com a democracia, pela universidade e por direitos

Por que setores espalham medo e paranoias para impedir a liberdade de cátedra dos professores?
Por que setores espalham medo e paranoias para impedir a liberdade de cátedra dos professores?

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Por que setores espalham medo e paranoias para impedir a liberdade de cátedra dos professores?

“Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”.

Esta expressão está contida no artigo 206 da Constituição Federal de 1988, que norteia os princípios básicos da educação e do ensino no país.

É isso mesmo. A nossa Constituição determina o princípio da liberdade de cátedra, isto é, a liberdade que todos os professores possuem para discutir assuntos que contribuam para a prática de ensino-aprendizagem.

Quem está por trás desse radicalismo?

Há vários grupos que reforçam essas iniciativas, mas tudo começa no desejo de as elites deixarem “tudo como está” porque isso é conveniente para quem já detém poder e riqueza. O que eles querem é que se mantenha um sistema excludente e desigual que continua sendo muito mais benéfico para os “de cima”.

Para eles não é interessante que o espaço educacional permita a troca de ideias, especialmente o debate sobre a realidade e os problemas da sociedade. “Vai que essas gerações resolvam fazer diferente e queiram mudar o mundo”, pensam os representantes das elites.

Reconhecidamente, o Brasil possui uma das elites mais mesquinhas e egoístas do mundo (6ª pior, segundo um estudo chamado Índice de Qualidade das Elites, o EQx).

Como eles têm muitas dificuldades para convencer a sociedade de que sua visão excludente de mundo é aceitável (porque realmente não é), encontraram outra forma de enganar a população para manter esse projeto tacanho de poder: usar pautas moralistas (com base em gatilhos como “conceito de família”, religião, sexualidade, gênero, etc).

É por isso que hoje em dia há tantos falsos moralistas (a maioria, sem nenhuma moral) fazendo discursos inflamados nas redes sociais, no Youtube e distribuindo mensagens raivosas contra setores da sociedade que, por exemplo, lutam por direitos (na boca deles, até “direitos humanos” se torna um xingamento).

Eles escolhem algumas pautas (mesmo que eles não acreditem nela, dado o absurdo que expressam) e trabalham intensamente para fomentar o ódio de setores mais radicais da população.

Eles usam essas questões para abrir o diálogo com certos setores sobre questões morais e, via de regra, religiosas, para conquistarem atenção, simpatia e fidelidade.

Isso funciona como um “Cavalo de Troia” porque, em seguida, eles já estão inserindo os temas que realmente lhes interessam: política e economia. Não parece ser uma mera coincidência o fato de que aqueles que vociferam discursos moralistas na política são, geralmente, os mesmos que defendem as pautas que beneficiam exclusivamente as elites, não é mesmo?

Criar um inimigo é parte da estratégia

Porém, nada disso funciona se não houver uma boa dose de paranoia (sempre inventam uma ameaça iminente), fomentada por mentiras e distorções sobre fatos históricos.

Mas a questão-chave mesmo é personificar esse medo em uma figura, e é aí que eles escolheram os professores. Em vez do reconhecimento e do respeito à categoria, que é uma marca dos países mais desenvolvidos, por aqui os professores são generalizados como “doutrinadores”.

O que seria facilmente compreendido com um incentivo à conscientização e à cidadania de estudantes, os setores radicais chamam de doutrinação. Mas, para eles, o termo só serve quando se destina a assuntos que incomodam às elites. Muito conveniente…

É por isso que há tanto empenho em restringir o trabalho dos professores, inclusive com a tentativa de impor leis inconstitucionais para reduzir sua autonomia dentro da sala de aula.

Para eles, vale tudo nessa guerra suja: intimidar docentes, para que deixem de dialogar com os estudantes sobre temas do cotidiano e sobre a realidade em que vivem; incentivar alunos a filmar os professores (o que é ilegal) para depois editarem e jogarem na internet, constranger e ameaçar nas redes sociais, para que os professores deixem de emitir opiniões em público. 

O objetivo maior é combater o livre conhecimento e o estímulo ao desenvolvimento do pensamento crítico no país. Eles sabem que, quanto mais crítica for a sociedade, menos espaço haverá para a sua sustentação política dos setores das elites e a popularização de suas pautas econômicas. 

Mas qual é o papel do professor?

O professor não é porta-voz de um pensamento único. Parte de seu papel é proporcionar aos alunos um espaço de debate, para que eles sejam capazes de fazer suas próprias asserções sobre o mundo.

E é por isso que qualquer crítica em torno da liberdade de cátedra não passa de uma tentativa de controlar a pluralidade de ideias. Não existe neutralidade quando se trata de assuntos humanos. E ensinar é, por natureza, um assunto humano, imerso em contradições e particularidades. Não existe “ensino” sem a liberdade de questionamento ou sem que cada um possa interpretar saberes e ensinamentos de acordo com suas próprias realidades.

O senso crítico faz com que as pessoas lutem por seus próprios direitos. Há algum mal nisso?

A “doutrinação” só existe quando uma verdade é apresentada como absoluta, o que é diferente do livre debate de ideias, da liberdade de cada um exercitar seu raciocínio e, a partir dessa troca, criar a sua própria interpretação do mundo.

Eles chamam de doutrinação o que é, na verdade, apenas o estímulo ao despertar da conscientização.  

Não ceder

Aos professores que seguem na ativa, é importante que essas ameaças não sejam o suficiente para “baixar a guarda” e impedir que cada um cumpra seu papel como educador.

As aulas devem servir aos propósitos de pluralidade e de livre produção de conhecimento (garantidos pela Constituição), e que fazem com que os estudantes sejam instigados ao debate e possam, também, pensar por si mesmos.

“Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, é o que está no artigo 206 da Constituição.

Aqueles que apostam no discurso do ódio e da intimidação, um dia, farão parte do passado (e muitos serão devorados pela própria crueldade). Mas o papel dos professores dentro da sala de aula terá impactos profundos e duradouros na vida de cada estudante. 

Cada aula que damos é um ato de resistência.

Fonte: APUB