Segundo Mariângela Simão, diretora-adjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS), os organismos internacionais já consideram que o advento de uma nova pandemia é não só provável como “inevitável”.
Caso esse cenário se concretize, precisaremos de serviços públicos mais organizados e preparados para cuidar da saúde de nossa população, não só com o tratamento, mas com ações sanitárias preventivas. Basicamente, o contrário do que o governo de Jair Bolsonaro propõe com sua Reforma Administrativa (PEC 32/2020), que busca destruir os serviços prestados pelo Estado à população.
Se uma nova pandemia é mesmo “questão de tempo, o Brasil precisaria de mais investimentos em saúde, ciência e controle sanitário do que nunca.
Diante de uma nova crise, teremos investimentos em pesquisa e tecnologia para desenvolver vacinas ou iremos todos nos tratar com cloroquina em hospitais privados (cujas experiências com pacientes fariam inveja ao nazista Josef Mengele) quando novas variantes chegarem?
Ah, se não fossem os servidores…
Em 2021, enquanto a pandemia estava sendo combatida com seriedade pela imensa maioria dos países, o Brasil estava sendo considerado uma ameaça mundial, afinal, estamos na segunda posição no ranking mundial de mortes (600 mil) e temos um dos pouquíssimos mandatários que vem agindo a favor do vírus, e não da população do próprio país que ele finge comandar.
Se não fosse o enfrentamento feito por opositores, por governadores e prefeitos que levaram mais a sério o combate à pandemia e se recusaram a distribuir os “kits-covid” (compostos por medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid-19), e dos servidores públicos (não só da saúde, mas de todas as áreas), o Brasil estaria no topo do ranking de mortes.
Nossa tragédia seria ainda maior do que a atual.
Professores e pesquisadores de universidades públicas publicaram inúmeros estudos e ainda estão tentando desenvolver uma vacina 100% nacional, praticamente sem apoio governamental.
Agentes de segurança pública, como policiais e guardas municipais, vêm enfrentando ameaças ao cumprir as ordens de governos estaduais e prefeituras para garantir as medidas de proteção, isolamento e até o fechamento de estabelecimentos que não cumpriam com as normas sanitárias.
Em todas as carreiras, servidores cobraram dos gestores medidas sanitárias para contenção da pandemia, reforçaram o isolamento social e ainda vêm lutando para ajudar a conscientizar a população.
Mais rico e líder em mortes
O drama vivido pelos Estados Unidos é a prova da falta que faz o atendimento universal à saúde. Por lá, não existe nada parecido com o nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Praticamente todo atendimento é pago. Por ano, 500 mil norte-americanos perdem tudo para pagar dívidas de hospitais.
Resultado: mais de 700 mil mortes por Covid-19, mesmo sendo o país mais rico do mundo (PIB desses em 2020 foi de US$ 21 trilhões, enquanto o do Brasil foi equivalente a US$ 1,4 trilhão).
Importante ressaltar que a população deles é de 330 milhões de habitantes, enquanto o Brasil tem 211 milhões.
Problema é global, mas a ameaça começa aqui
O significado do termo “pandemia” já explicita que se trata de uma situação que vai muito além das fronteiras nacionais: a pandemia é uma epidemia disseminada globalmente.
Para ser enfrentada, são necessárias medidas locais, nacionais e também internacionais. Por conta desse entendimento, inclusive, está agendada para novembro uma assembleia da ONU que irá debater exatamente medidas para se evitar uma nova tragédia global.
O que já está evidente para cientistas e organismos internacionais é que a vacinação só se tornará uma solução efetiva se for aplicada em todas as regiões do planeta. Caso contrário, novas variantes mais perigosas poderão se desenvolver, o que fatalmente afetaria também os países onde a vacinação já avançou.
A participação do Brasil nessas discussões atualmente é nula, tendo em vista que o governo de Jair Bolsonaro é tratado como um “pária” internacional, ficando ausente de qualquer negociação séria. Durante sua vexaminosa participação na Assembleia Geral da ONU em setembro, jornais de todo o planeta chamavam Bolsonaro de “presidente anti-vacina” (“Brazil´s anti-vaxxer president”).
A situação pode piorar muito caso a Reforma Administrativa seja aprovada, já que a ausência de articulação internacional seria somada à falta de ações nacionais e locais, que hoje são garantidas pelos servidores públicos.
Todo o trabalho feito por hospitais públicos (inclusive os universitários), ações de orientação e conscientização, fiscalização e vigilância sanitária, pesquisas e controle seriam reduzidos.
Se o governo Bolsonaro já contribuiu muito com o agravamento da pandemia em nosso país, a situação teria sido ainda pior sem os serviços públicos e o trabalho incansável dos servidores.
Mais um motivo pelo qual a PEC 32/2020 do governo Bolsonaro precisa continuar sendo combatida: caso contrário, estaremos ainda mais vulneráveis diante de novas epidemias e pandemias.
Fonte: APUB