Desemprego recorde, apagão na ciência e na educação, desmonte da saúde pública, inflação acima de 10%, alta de preços da cesta básica, gás acima de R$ 100, gasolina mais cara da história, fuga recorde de investidores, multinacionais deixando o Brasil, destruição de políticas sociais e isolamento político mundial são alguns dos grandes problemas causados ao Brasil por causa das escolhas do governo de Jair Bolsonaro.
Isso sem falar na catastrófica condução da pandemia de Covid-19, cujo negacionismo contribuiu para cerca de 75% das mais de 640 mil mortes pela doença no Brasil.
Quando sair da Presidência da República, o legado de Jair Bolsonaro será um cenário de terra arrasada no país, nas estruturas do Estado e na vida dos brasileiros, sendo que duas das áreas mais importantes para o país – a saúde e a educação – foram as mais afetadas pela política de destruição adotada pelo governo.
Parceiro da Covid-19, inimigo da vida
Em um momento de crise sanitária, que já vinha ceifando vidas na Europa e nos Estados Unidos antes de se tornar mais crítica no Brasil, o Ministério da Saúde não se antecipou e o governo insistiu na tese de colaborar com o novo Coronavírus, em vez de combatê-lo.
Ao contribuir para espalhar a pandemia, o governo levou o Brasil ao segundo lugar em número de mortes por Covid-19, mesmo tendo o mais amplo sistema de atendimento universal à população.
A troca sucessiva de ministros da Saúde refletiu na falta de uma política nacional para conter a pandemia. Houve um forte aparelhamento do ministério com negacionistas profissionais que só não destruíram o Sistema Único de Saúde (SUS) porque os servidores públicos estão protegidos pela Constituição. Mas o estrago foi gigantesco.
O governo gastou perto de R$ 100 milhões com a compra e distribuição de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença, fazendo o lucro de laboratórios (muitos deles comandados por apoiadores do presidente) se multiplicar.
Além de retardar ao máximo a compra de vacinas (causando ainda mais mortes), ainda há indícios de tentativa de compras superfaturadas de imunizantes que nem haviam sido testados, tudo fartamente documentado pela CPI da Covid.
Educação e ciência sofrem
Já na educação, além de drásticos cortes orçamentários para todos os níveis de ensino, houve uma política evidente de apagão da ciência, com a redução drástica do financiamento de bolsas e de projetos de pesquisa.
A pedido do Ministério da Economia, o Congresso Nacional aprovou em outubro de 2021, um projeto que retirou o valor de R$ 600 milhões do orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia e destinou o dinheiro para outras áreas. O orçamento da pasta já havia sido cortado em 29% em relação ao ano anterior. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta que o valor direcionado à pesquisa (CNPq e do FNDCT), somados, são menores do que eram no início dos anos 2000. O orçamento do CNPq em 2021 ficou em R$ 1,21 bilhão — o menor valor dos últimos 21 anos.
Enquanto a ciência se provou mais necessária do que nunca, a retribuição do governo foi tentar sufocá-la ainda mais.
Houve uma forte reação da comunidade científica brasileira e de outros setores, mas o governo nunca se mostrou disposto a dialogar com universidades e entidades ligadas à pesquisa e produção científica.
O impacto da falta de investimentos na ciência talvez não seja visto de imediato, mas daqui a alguns anos sofreremos com a descontinuidade de estudos importantes e ausência de respostas para muitos problemas que afetam a vida da população.
Mistura de tudo e nada ao mesmo tempo
Para se eleger, Bolsonaro adotou com discurso o projeto econômico ultraliberal do seu atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que prometeu uma era de riqueza e prosperidade com a privatização e venda de empresas estatais e ativos públicos, além de mudanças estruturais que reduziriam o Estado de forma inédita, deslanchando os investimentos privados. Ele chegou a afirmar que seriam gerados milhões de empregos com tudo isso. O pior é que muita gente acreditou nele.
Aos olhos do mundo, o Brasil se tornou um pária. Mesmo o governo querendo entregar tudo a preço de banana, poucos querem se relacionar com nosso país.
Suas promessas, além de não terem sido cumpridas (obviamente), levaram considerável parcela da população brasileira à extrema pobreza. O governo prometeu empregos, mas entregou desemprego. Prometeu riqueza e prosperidade, mas entregou fome e miséria. Até os empresários, para quem ele prometeu acabar com as leis trabalhistas para aumentar os lucros das empresas, sofreram por causa do desastre econômico (afinal, o povo cada vez mais pobre deixa de consumir).
O Brasil havia saído do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, em uma ocasião que foi um marco mundialmente reconhecido no caminho da promoção do direito humano à alimentação adequada e saudável. Mas, desde 2020, o Brasil aparece novamente no mapa, entre os países com mais de 5% da população vivendo em insegurança alimentar. Dos inúmeros retratos da fome em 2020, um dos que mais chocou foi a busca por ossos para alimentação. A demanda foi tão grande que açougues passaram a vender carcaças.
Enquanto isso, o chamado Centrão (bloco político amórfico, apegado ao poder e ao dinheiro) nunca teve tanto poder: comanda um orçamento de R$ 150 bilhões e ainda recebe quase R$ 20 bilhões em emendas secretas cujos destinos são encobertos por uma manobra do governo. Não por acaso, o presidente Jair Bolsonaro resolveu se filiar a um desses partidos.
E o combate à corrupção? Outra coisa que ficou apenas na promessa de campanha.
Meta
A única previsão que Bolsonaro cumpriu foi contribuir para a morte de brasileiros. Em 1999, quando ainda era um mero deputado federal caricato, atuando no submundo da política e operando rachadinhas de salários de funcionários de seu gabinete (segundo investigações em andamento), ele disse que “só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil”.
Pois é. Seu governo atingiu essa meta e a multiplicou por 20 na pandemia, ao colaborar para espalhar a Covid-19.
Quem sente as consequências do rastro de destruição deixado por Bolsonaro e sua tropa é a população.
Os brasileiros já estão pagando caro demais nessa fatura.
Fonte APUB