Apub vai à Unilab no Ceará pressionar para resolver situação de calamidade do campus dos Malês

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Na tentativa de levar condições dignas de trabalho e permanência estudantil ao Campus dos Malês da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), situada na cidade de São Francisco do Conde, na Bahia, o Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (APUB Sindicato) enviou comitiva de professoras sindicalistas e estudantes para uma reunião com a reitoria da instituição, representada pelo Professor Roque Albuquerque, no Ceará. O encontro aconteceu na última segunda-feira (27 de novembro), no Campus Liberdade, sede administrativa da Unilab, em Redenção, e contou com a participação de Claudia Carioca, vice-Reitora; Segone Cossa, pró-Reitor de Políticas Afirmativas Estudantis; Artemisa Odila, pró-Reitora de Relações Institucionais e Internacionais; Antônio Célio, pró-Reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças; Geranilde Costa e Silva, Coordenadora de Direitos Humanos. Por parte da Unilab/Malês, participaram Marta Lícia Teles, presidenta da APUB; Clarisse Paradis, vice-Presidenta do sindicato e professora adjunta da Unilab; Sabrina Rodrigues, conselheira representante titular da Apub pelo Campus dos Malês e professora da Unilab; Juliana Bueno, conselheira representante suplente dos Malês e professora da Unilab; além de Hulda Calala e Ìyamidu Barbosa, representantes do corpo discente da Unilab/BA.

A reunião com o reitorado centrou-se em dois pontos de uma extensa pauta. A insegurança alimentar das/os estudantes e a retomada da construção de 12 salas de aula emergenciais, para garantir espaço para todas as atividades acadêmicas e administrativas e também para auxiliar as atividades de orientação de docentes a estudantes da graduação e pós-graduação.

Antes da reunião, que estava agendada para às 14h, no campus Liberdade, a comitiva visitou o campus das Auroras, situado na divisa entre Acarape e Redenção, e se deparou com uma realidade completamente diferente da vivida na Bahia. Visitaram instalações bem estruturadas com salas de aulas confortáveis, contando com condicionadores de ar e projetores fixados no teto, praça de alimentação ampla, muitos espaços de convivência abertos; vasto corredor com gabinetes para professores/as para orientação de alunos, além de um restaurante universitário amplo e bem estruturado, centro cultural e biblioteca. O campus ainda conta com residência universitária pronta, mas ainda sem funcionamento. De todo modo, Auroras está em constante melhoria. No momento da visita, estava em obra de pavimentação da via até o restaurante universitário. 

O segundo ponto de parada do grupo foi o campus da Liberdade. Lá o grupo foi muito bem recepcionado pelo Pró-Reitor Antônio Célio, e conheceram também um local com ótima estrutura, contando com anfiteatro, bosque e academia. Um espaço muito amplo, que deixou as estudantes constrangidas “eu estou passando mal com toda essa diferença. Nós também existimos!”, destacou a estudante de Humanidade, Ìyamidu Barbosa.

A situação do Campus dos Malês é bem crítica, e foi relatada recentemente em matéria do Jornal a Folha de São Paulo, leia aqui. O descaso e desatenção vem desde a sua criação em 2014. Em 2018, as obras do campus foram paralisadas e as condições vêm se agravando desde o fechamento do restaurante universitário em agosto deste ano, colocando o corpo discente em estado de insegurança alimentar. O fato vem sendo tratado com o paliativo de uma ajuda de custo emergencial, que foi de R$ 575,00 apenas no mês setembro; R$ 315,32, em outubro e R$ 152,88, em novembro. A ajuda de custo, a partir do mês de dezembro, refere-se ao valor da rubrica destinada ao restaurante universitário – R$ 108.000,00 – dividido igualmente para estudantes que preencham um conjunto de requisitos, resultando em R$ 208,40. Segundo informações dadas na reunião pelo reitorado, a divisão é quase universal.  

Este ponto foi tratado na reunião, e de acordo com as palavras do Reitor “enquanto não tiver o restaurante universitário funcionando, o valor de 108 mil, destinado à rubrica para o restaurante será rateado entre os estudantes”. O reitor ainda informou que especificamente para o mês de dezembro será acrescido R$ 150,00 por pessoa, tornando o valor universal em R$ 358,40, por complementação decidida pela reitoria.

Na reunião, o Reitor apresentou o compromisso para a construção das 12 salas emergenciais no primeiro semestre de 2024, considerando que a licitação deve ser executada até fevereiro. O compromisso foi gravado em vídeo pela APUB. “Fizemos o anúncio de que nós temos o compromisso de construir as 12 salas, vamos também chamar de emergenciais, porque a licitação já está correndo bem dos nossos prédios acadêmicos e esperamos agora em dezembro bater o martelo e logo no início do ano que vem com a empresa que ganhar a licitação, já marcando a data de poder atuar. Então as 12 salas também vão acontecer porque são necessárias e nós estamos sempre com preocupação com as nossas discentes e os nossos discentes” afirmou Reitor Roque Albuquerque ao final da reunião.

Como destacou a vice-presidente Clarisse Paradis na reunião: “Professora Claudia Carioca mencionou que os campi do Ceará não nasceram do dia para a noite. Foi um processo de árdua institucionalização e luta, que envolveu o funcionamento em containers e estruturas provisórias. Vimos estruturas bonitas e também desafios aqui nos Campi do Ceará. A visita nos ajuda a compreender as condições reais da nossa universidade. Nós queremos ter o direito a estruturas provisórias enquanto nosso Campus dos Malês está em construção, assim como foi no Ceará. As 12 salas são urgentes. Precisamos garantir a nossa existência, enquanto as obras definitivas avançam”.

Para a conselheira da APUB, Sabrina Balsalobre, “a finalidade última de uma universidade é o ensino, uma formação qualificada dos estudantes. Todas nós que somos sindicalistas viemos com essa perspectiva, de garantir condições de trabalho porque o objetivo de nossa existência como professoras é formar adequadamente nossos estudantes. Precisamos retomar o diálogo para que a nossa existência garanta nossa finalidade última da universidade que é o ensino”.

Para coroar a visita à Unilab no Ceará, a comitiva foi recebida num ato político cheio de acolhimento e de afeto organizado pelo Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato) e pelo Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do Estado do Ceará (Sintufce) com a participação de integrantes de vários segmentos do movimento sindical e social, como quilombolas, indígenas, ciganos e LGBTQIA+. Na oportunidade, além de todo apoio declarado à situação em que vivem professores e estudantes no Campus dos Malês, foi exposto o cenário nada agradável das relações institucionais entre Unilab, discentes e professores no estado alencarino. Ao final do evento, foram encaminhadas cartas de apoio, a necessidade de integrar as lutas dos sindicatos que compõe os campi da UNILAB, a recomposição do Conselho Universitário e visibilidade e solidariedade do Ceará em relação às lutas do Campus dos Malês.

A presidenta da APUB, Marta Lícia Teles, avalia o dia e a reunião como positiva e conta que valeu todo o esforço para participar do encontro. “Nós somos um sindicato do final da década de 60, quando existia apenas a UFBA, mas o nosso papel é defender todos os docentes federais da Bahia, e como não existe docência sem discentes, estamos nesta luta pelos estudantes também porque é o nome do Brasil que está em jogo, em se tratando de uma Universidade com relações internacionais. O campus malês existe porque resiste!”, finalizou a sindicalista.

Para a conselheira da Apub,  Juliana Bueno: “A ida ao Ceará foi uma etapa importante da mobilização feita pela categoria docente ao longo dos últimos anos. Além das visitas aos 3 campi da Unilab Ceará para conhecer a estrutura das salas de aulas, restaurantes, áreas de convivência, laboratórios e gabinetes, também foi possível ouvir as pautas trabalhistas de docentes do Ceará. Também apresentamos, junto à reitoria, questões fundamentais para o nosso campus, como a solicitação da realização de obra para construção de 12 salas emergenciais, que permitirá à comunidade da UNILAB – Malês ter uma estrutura básica para o funcionamento das atividades acadêmicas ainda em 2024”.