Mais uma vez, empresa Atlântico suspende linha de ônibus e impede estudantes e professores da Unilab de ministrar e assistir aulas
Transporte público de qualidade é uma necessidade e um direito de quem ensina e de quem estuda. Localizado em São Francisco do Conde, a aproximadamente 85 quilômetros da capital baiana, o campus Malês da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab reúne estudantes brasileiros da região do Recôncavo, incluindo Salvador, e estudantes advindos dos países africanos de língua oficial portuguesa. Ambos necessitam de transporte público para fazer o deslocamento nesse território.
No entanto, a empresa de ônibus Atlântico, que presta serviço de transporte intermunicipal, mais uma vez afronta o direito de ir e vir ao cancelar a linha de ônibus das 22h, essencial para o deslocamento de estudantes e professores da Unilab após as aulas do turno noturno. Antes disso, a empresa, sem qualquer justificativa, já havia retirado a linha de ônibus de Salvador para São Francisco do Conde de meio-dia, prejudicando as aulas do período da tarde. A situação se arrasta há tempos: desde o ano de 2022, a direção do campus dos Malês e a Apub se reúnem com a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos (Agerba) para negociar uma solução.
Desrespeitando mais uma vez os acordos firmados, na última segunda (16/9) a empresa cancelou sem aviso prévio a linha das 22h, deixando literalmente na rua e sem saber o que fazer estudantes e professores que precisavam voltar pra casa. Foi o que aconteceu com a professora Juliana Bueno: na noite de segunda ela aguardou por 40 minutos pelo ônibus das 22h, que não passou. Um docente, que dormiria em São Francisco do Conde e portanto não precisava fazer o trajeto, se voluntariou a levar os colegas de carro para Salvador. A empresa afirma que comunicou a suspensão da linha 48 horas antes e justifica que a demanda de usuários da linha é muito baixa.
A professora Juliana contesta o argumento: “Desde o começo do semestre, a empresa Atlântico suspendeu duas linhas que a gente tinha, uma de 12h10, outra de 13h10, no sentido Salvador São Francisco do Conde, que eram linhas muito utilizadas. Os ônibus iam sempre cheios de Salvador para São Francisco do Conde, tanto de usuários do município quanto da Unilab”, rebate a professora, que participou das reuniões com a Agerba e conta como sua vida foi afetada pelo descaso da empresa: “Desde o começo do semestre, eu tenho vivido uma ansiedade no domingo, porque eu dou aula dia de segunda, à tarde e à noite. Eu pegava esse ônibus de 12h10 e voltava no ônibus das 22h. Agora, toda semana eu fico tensa e ansiosa porque eu dependo de carona”, explica.
Para Clarisse Paradis, presidente em exercício da Apub e professora da Unilab residente em Salvador, a justificativa da baixa procura não é suficiente para a suspensão do serviço: “A gente sabe que o transporte público é um direito. Quando ele serve à universidade, ele serve para um interesse público. Independente de quantas pessoas utilizam o transporte, ele deve existir, porque enquanto houver pessoas necessitando de deslocamentos, ele deve existir como um direito à cidadania”.
As inúmeras denúncias feitas desde 2022 à Agerba em relação à baixa qualidade da oferta desse serviço não tem qualquer consequência. Os/as professores/as estão se organizando no âmbito da Apub sindicato para acentuar as lutas pelo transporte de qualidade. Defender a universidade pública é também lutar por políticas públicas que possibilitem seu pleno funcionamento. A interiorização das universidades públicas é uma conquista e precisa ter condições adequadas de funcionamento, com engajamento do poder público municipal, estadual e federal.