A conexão com a sociedade e o fortalecimento da educação pública são antídotos para se lidar com o problema da desinformação, evitando engajar discursos de ódio nas redes
Como a desinformação programada traz impactos para a universidade? Partindo dessa questão norteadora, a primeira edição de 2025 do Café com Apub ocorreu na última quinta-feira (30/01). O debate online contou com a participação dos professores Pablo Ortellado (USP/ colunista político), como convidado, e Cristtyan Arantes (UFBA-Camaçari), como debatedor. O bate-papo foi conduzido pela vice-presidente da APUB, Barbara Coêlho. Com organização de Waldomiro Silva Filho (FCH/UFBA), o encontro repercutiu os debates que surgiram após a divulgação do fim dos moderadores de conteúdo pelas plataformas da Meta.
“O nosso o ano de 2025 começou com várias questões também de ordem política. Nessa semana, tivemos a China lançando o modelo de Inteligência Artificial, a DeepSeek. Então, temos vários pontos para falar que impactam, de alguma forma, a universidade em seus vários aspectos, suas várias capacidades de interlocução, o alcance tanto na pesquisa, como na extensão e no ensino” destacou Barbara ao iniciar os debates.
Durante sua participação, Pablo Ortellado falou sobre a dificuldade de se conceituar a desinformação enquanto objeto de pesquisa, contextualizou as mudanças de condução do Meta, por Mark Zuckerberg , destacando sobretudo o fim do que ele chamou de “parar de puxar o freio de mão dos conteúdos políticos”.
“Fica muito claro que o Facebook estava desprivilegiando, desincentivando conteúdo político em geral […]. E o que é curioso, quando você olha a série histórica fazendo essa análise, é que, embora o algoritmo do Facebook estivesse tentando despolitizar a plataforma, distribuindo menos, as pessoas seguiram, de 2017 até 2024, cada vez publicando mais e mais. Os conteúdos políticos passaram a ser cada vez mais prevalentes”, ressaltou Pablo.
Diretor-executivo da More in Common Brasil e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, Pablo Ortellado atua como colunista de O Globo e criador do podcast “Guerras Culturais”. Segundo o professor da USP, que relacionou essa prevalência ao fenômeno da polarização, a desinformação é um problema de ordem política e as soluções, muitas vezes, podem esbarrar na liberdade de expressão das pessoas.
“Fica muito difícil achar um equilíbrio entre a proteção de direitos […] e a plena liberdade de expressão”, afirmou. O pesquisador aposta no modelo europeu de regulação como melhor opção, que exige das empresas e das plataformas de mídia social incluir, nos termos de serviços, a delimitação de quais são os tipos de conteúdos que não podem circular por violar leis consensuadas na sociedade.
O pesquisador do ICTI/UFBA, Cristtyan Arantes, defendeu a importância da regulação, ressaltando que a internet, bem como o uso da inteligência artificial, não são “terras sem lei”. “As pessoas têm que ser responsabilizadas pelo que elas fazem. Você não pode abrir uma mensagem de um aplicativo, escrever o que você quer, sendo uma desinformação, soltar e não ter consequências com relação a isso, a partir do momento que se estabeleceu uma normativa e as empresas tiverem que se adaptar”, defendeu.
O professor da da UFBA-Camaçari também comentou sobre a descontinuação de ferramentas que deixaram de fornecer dados gratuitos para as pesquisas, a exemplo da Meta, que possuía uma API que possibilitava que instituições acadêmicas desenvolvessem suas investigações.
Impactos na Universidade
Um ponto levantado pela vice-presidenta da APUB, Barbara Coêlho, foi os ataques que as instituições acadêmicas têm sofrido em função da desinformação. “Como a Universidade pode se defender dessas tentativas de deslegitimação? O que a gente percebe é que os movimentos sociais são um foco muito grande da desinformação, principalmente desse modo que a gente está discutindo aqui, que é uma desinformação programada”, provocou.
Na opinião de Pablo, universidades e movimentos não devem entrar no que ele chamou de “guerra”, defendendo o resgate da confiança das pessoas como alternativa. “Eu acho muito mais importante do que entrar no embate com as pessoas que estão atacando a universidade, do que entrar em embate com elas, é entrar em conexão com a sociedade”, defendeu.
Para o colunista, a Universidade precisa investir mais na divulgação do que produz, das pesquisas e dos benefícios dos serviços prestados, como forma de fortalecer essa conexão e a própria confiança da sociedade. “A gente precisa mostrar a natureza do trabalho, seja a pesquisa aplicada, seja a pesquisa teórica, porque ela também beneficia a população”, completou.
Já Cristtyan, falou sobre a importância de se remodelar o sistema educacional como um todo, com o fortalecimento do ciclo básico, conectando os diferentes níveis educacionais a partir da promoção da ciência.
Confira a íntegra dos debates: