A luta dos docentes não tem trégua. Derrotamos um governo que lançava os mais abjetos e diretos ataques às universidades públicas; e tudo faremos para que tal obscurantismo jamais retorne. Entretanto, temos um governo que está longe de conferir a devida prioridade à educação superior — o que também pode ter consequências devastadoras. A mobilização dos trabalhadores da educação continua, pois, a ser decisiva, tanto para a defesa dos interesses mais diretos das categorias, quanto para a própria defesa da universidade e, em suma, da democracia.
Nesse sentido, o papel dos nossos sindicatos é de extrema relevância, como é o caso da APUB, com seus 57 anos de existência. Sabemos que, em sua longa e valorosa história, a APUB tem muitas faces, e críticas podem ser feitas em muitas direções. Para mim, porém, enfatizando uma relação pessoal e guardando a marca de um simbolismo, ela sempre será a APUB de Ubirajara Rebouças e Joviniano Neto, de Sofia Olszewski e Lúcia Lobato, de Israel Pinheiro e Antônio Câmara. Enquanto instituição, a APUB é, portanto, um valor — que precisa, sim, com independência de governos, renovar a cada dia seu compromisso com a causa da educação.
Recentemente, com toda razão, foi apontada e cobrada em assembleias uma fragilidade da APUB: a ausência de uma carta sindical. Ora, é tarefa agora de toda comunidade superar essa falha e tomar as devidas providências para corrigi-la, com um cuidado deveras importante. Sendo necessária essa correção, ela não pode implicar um erro ainda mais grave, pois temos a notícia de uma prática danosa recente, quando a obtenção de uma carta sindical em Goiás e Santa Catarina serviu antes à mediocridade política e à ambição pelo poder do que à luta democrática.
Por isso mesmo, para seguir um caminho transparente e correto, a conquista da carta não pode significar uma grave derrota para nossa categoria. É preciso firmar pública e presencialmente o compromisso de que sua obtenção não acarreta a retirada de direitos de outras representações, nem pode se converter em ameaça à diversidade sindical na Bahia. Assim, no espaço da assembleia, sobretudo, com a presença efetiva e sem subterfúgios dos docentes, poderá ser afirmada uma decisão democrática — a única capaz de sustentar um passo decisivo como esse na longa duração.
Tenho certeza de que todos os militantes autenticamente comprometidos com a luta dos docentes têm interesse em firmar com clareza esse essencial acordo político, cuja permanência, por sua feita, será garantida por nossa própria luta e pela nossa capacidade de, mais e mais, qualificar os argumentos que sustentam nossas diferenças e podem eventualmente produzir consensos. No solo da democracia sindical, é imperioso encontrar os melhores meios para conviver e divergir, sabendo que jamais será autêntica e produtiva uma discussão, caso a própria possibilidade da divergência esteja eliminada.