Análise de conjuntura aponta disputa entre projetos políticos e econômicos na América Latina

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Uma análise sobre a conjuntura política na América Latina abriu a manhã do segundo dia do V Encontro do Movimento Pedagógico, que acontece em Curitiba até esta quinta-feira, 5. Iniciada com a jornalista e escritora Telma Luzzani apresentando o contexto das mobilizações populares, dos golpes nos países da América Latina e as reações dos governos, chegando a situações extremas – decretos de estado de sítio, repressão violenta aos protestos, sequestros, estupros e inclusive mortes.

Telma fez uma análise da década de 1970 para explicar o processo histórico de consolidação do neoliberalismo no continente, sob a égide dos Estados Unidos, que fez do Chile um laboratório para promoção das políticas neoliberais, dentre as quais destacou o forte investimento do capital nas universidades e centros de estudos para promover valores e o conceito econômico de livre mercado. “Os Estados Unidos nunca deixaram de ver a América Latina como parte de seu território a ser dominado. A fronteira sul é a mais importante para eles, que só poderiam ser uma potência hegemônica através do controle de toda a região”, explica.

Os intensos protestos chilenos são, para ela, expressão das consequências das privatizações de bens fundamentais, como a água e a educação. “A liderança e hegemonia dos EUA estão em decadência”, afirmou a jornalista, lembrando de eventos que significaram derrotas à imposição do modelo econômico neoliberal, como a rejeição à ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas), em 2005, contudo não derrotaram o projeto na sociedade.

Sobre as recentes mobilizações, Luzzani argumentou que há três vitórias sendo produzidas no continente latino-americano: a primeira, é nas ruas, como exemplo do Chile, Equador e Colômbia; a segunda, nas urnas, apontando Argentina e México; a última, é a resistência, lembrando da manutenção do governo de Nicolás Maduro na Venezuela e da reação do povo boliviano aos golpes.

Em seguida, veio a exposição do professor Luiz Dulci, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores, que foi também secretário-geral da Presidência da República no governo Lula e deputado federal. Concordando com a afirmação sobre a decadência da hegemonia norte-americana, o professor apontou esta como causa do esforço do país, por meio do autoritarismo, para recuperar espaço no mundo. “Há 40 anos, o neoliberalismo tinha um elemento inovador e capacidade de construir maioria na sociedade dentro das regras democráticas. O que está voltando agora com o programa econômico vem como uma ofensiva mundial da direita autoritária na política, com traços e comportamentos do fascismo em vários países do continente”, explica Dulci.

Mesmo sendo antipopular e contrário à soberania dos países, o neoliberalismo tinha uma certa utopia em seu início – era apresentado com uma dimensão renovadora, de abertura econômica, modernização tecnológica e de integração com o mundo. No caso brasileiro, por exemplo, conseguiu conquistar a sociedade, inclusive os setores populares, com forte apoio dos meios de comunicação e aparatos tecnológicos das elites políticas. Com as consequências danosas para a população e privatizações, como a da Vale do Rio Doce, a tese perdeu parte do apoio social aos programas econômicos, mas as ideias e valores continuaram dominantes na sociedade, nas escolas, nos meios de comunicação.

Completou ainda, afirmando que a maior ameaça aos EUA é a integração política, muito além da econômica, entre os países da América Latina. “Passamos a ter uma presença autônoma e soberana no mundo, uma política externa independente”.

Sobre o momento político de avanço do conservadorismo, Dulci defende que não devemos ser derrotistas. “Não podemos aceitar a ideia de que antes foi um ciclo progressista e que agora está dado que temos um ciclo conservador. A disputa está em aberto, exemplo disso são as manifestações nas ruas”, e concluiu apontando em seguida alguns desafios como fazer uma disputa de ideias, valores e de visão de mundo com a sociedade, já que apenas a estratégia economicista de proporcionar conquistas materiais para as classes populares não gerou, por si só, uma maior consciência social; defendeu também uma reforma política, em que seja possível construir maiorias parlamentares, para sustentar as transformações sociais; e uma reforma tributária para distribuição de riqueza.

Fonte: PROIFES-Federação