Antissemitismo: o legado de intolerância do governo Bolsonaro

A gramática do ódio promovida pelo bolsonarismo fraturou o tecido social

Estudo do Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil revelou que, ao longo dos anos da gestão de Bolsonaro, as ocorrências de casos de antissemitismo (preconceito contra judeus) e neonazismo cresceram no país. Segundo o Relatório de Eventos Antissemitas e Correlatos no Brasil, entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2022, foram 55 casos de antissemitismo e 114 de neonazismo.

A maior parte das violações, 52%, teve como autores extremistas e bolsonaristas. Pessoas em cargos públicos são 15% dos autores. Já o próprio presidente Jair Bolsonaro e integrantes do governo foram responsáveis por 9%.

Os dados demonstram uma prática anticivilizatória largamente difundida pelo bolsonarismo — expressão brasileira da extrema-direita – que não se restringe ao preconceito contra judeus.

Racismo, homofobia e machismo também se integram à chamada “gramática do ódio”, largamente utilizada pelo ex-presidente e seus fanáticos seguidores.

Em tempo, foi por meio do preconceito contra gays, negros e mulheres que a extrema-direita no país conseguiu criar um “solo fértil”, ao longo dos últimos quatro anos, para ampliar a lista de mazelas e ataques contra o tecido social brasileiro – fazendo crescer também o antissemitismo.

Neonazismo e antissemitismo

Os pesquisadores entendem como neonazismo a “promoção do ódio contra diferentes grupos da sociedade, por motivos étnico-raciais, nacionalistas, religiosos, de gênero ou políticos, sem excluir argumentos eugênicos”. Já as ocorrências de antissemitismo são ataques diretos aos judeus.

Dialética perversa

A gramática do ódio bolsonarista age por meio da criação de uma intrincada e sofisticada relação entre dentro e fora, superfície e subterrâneo. Criam discursos e gatilhos que se combinam de forma a manipular o sentimento das pessoas, por meio do medo e da intolerância – ainda que os sinais sejam bastante contraditórios.

Ao mesmo tempo que Bolsonaro se vendeu como “amigo” dos judeus e de Israel, abraçando bandeira, fazendo encontros com organizações judaicas; o próprio presidente lança mão da defesa de símbolos nazistas como abraçar uma sósia de Hitler, utilizar uma versão do slogan de campanha hitlerista (Brasil acima de tudo), seus ministros fazem encenações e imitações de discursos com referências a lideranças nazistas, dentre outras manifestações. Além do encontro oficial entre o presidente da República e Beatrix von Storch, expoente do partido alemão de extrema direita AfD.

Essa dialética perversa ganha contornos ainda mais dramáticos quando provamos que não se restringe ao discurso. O relatório O Antissemitismo Durante o Governo Bolsonaro listou 104 ocorrências em dois anos (2020 a 2022), entre casos de neonazismo e neofascismo, teorias da conspiração contra judeus, banalização do Holocausto e antissemitismo de setores progressistas.

E chegamos a eventos trágicos como o caso dos massacres nas escolas em Suzano (SP) e em Saudades (SC). A investigação do massacre na creche em Santa Catarina recebeu o nome de “Operação Bergon”, em homenagem a uma freira francesa, Denise Bergon, que abrigou crianças judias durante o Holocausto e as salvou do extermínio. Autoridades descobriram que o assassino era parte de uma célula extremista, que fazia apologia ao nazismo. Por fim, o legado do bolsonarismo causou danos profundos ao nosso tecido social. O resgate da democracia e de um cultura de paz e diversidade deve ser um esforço permanente e diuturno dos próximos anos de toda a sociedade para fazer o país retornar aos trilhos civilizatórios.

Fonte: APUB

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