Armas em vez de livros: Brasil vira barril de pólvora

O país liderou a aquisição de armas nos últimos anos, enquanto governo fez cortes gigantescos em todos os níveis de Educação

Uma das poucas coisas que o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez ao longo de quase quatro anos de mandato foi liberar indiscriminadamente o acesso e uso de arma no Brasil.

Desde 2019, o país registrou quase o triplo de importações de revólveres e pistolas do que nos governos de todos os outros presidentes, desde 1997. Foram importadas 441,3 mil armas desse tipo nos últimos três anos, contra 120,4 mil nos 21 anos anteriores.

Não é só a aquisição de armas, trata-se de uma verdadeira política de armamento de grupos civis e do crime organizado, que passou a comprar arma de forma “legalizada”, e ainda pagando muito mais barato do que pagava quando precisava adquirir no mercado paralelo.

Libera geral

Bolsonaro publicou15 decretos presidenciais, 19 portarias, dois projetos de lei e duas resoluções que flexibilizam regras para acesso a armas.

Em pelo menos 23 estados há projetos de lei que propõem alteração do ICMS para facilitar a aquisição de armamentos, aponta estudo do Instituto Sou da Paz.

Dos 35 projetos de leis apresentados, 21 são voltados a profissionais da segurança pública. Os outros 14 beneficiam os CACs (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores), o “braço armado” do bolsonarismo. Apenas quatro projetos foram criados antes do governo Bolsonaro.

A facilidade para se inscrever como CAC é a ponta do iceberg, o grande facilitador para a distribuição indiscriminada de armas pesadas. Afinal, quem precisa de 30 armas, inclusive fuzis semiautomáticos que eram de uso exclusivo dos militares?

Em quatro anos, o número de CACs mais que quintuplicou. Passou de 117 mil, em 2018, para os atuais 673,8 mil, conforme dados do Sou da Paz. No período, a “bancada da bala” recebeu considerável reforço, via atuação de grupos como o ProArmas, que oferece apoio a candidatos em troca de cargos.

Além disso, é inegável que muitos políticos, influenciadores e até líderes religiosos recebam dinheiro de empresas armamentistas e de clubes de tiro para atuarem como lobistas e garotos-propaganda desses interesses.

Entre o clube do livro e o clube do tiro

Entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu quase 800 bibliotecas públicas, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), mantido pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo. Enquanto o país perdia bibliotecas, ganhou praticamente um clube de tiro por dia.

O Brasil tem mais de 2 mil clubes de tiros, sendo que 50% foram abertos de janeiro de 2019 até maio de 2022, ou seja, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. Isso significa dizer que, nesse período, quase um clube de tiro foi inaugurado por dia no país.

E se a redução das bibliotecas já é um dado alarmante, se olharmos para os cortes do governo Bolsonaro na Educação pública, é possível dizer que o conhecimento e o espírito crítico estão realmente na mira dos armamentistas.

A começar pelas universidades federais que têm sido alvo constante dos contingenciamentos e cortes do governo Bolsonaro. O orçamento discricionário, que já foi R$ 12 bilhões em 2011, caiu até 2021, quando chegou a R$ 4,4 bilhões – quando as instituições estavam atuando majoritariamente de forma remota.

No entanto, a volta das atividades presenciais em 2022 não foi acompanhada por uma readequação dos recursos, chegando a apenas R$ 5,1 bilhões para gastos discricionários.

Tudo isso mostra que, além da destruição da economia e dos direitos da população, o governo de Bolsonaro também tentou destruir as bases da nossa sociedade, implodindo a educação e, ao mesmo tempo, promovendo mudanças para transformar o Brasil em um barrir de pólvora prestes a explodir.

E tudo fica ainda mais perigoso se o sujeito que está segurando o fósforo for um político que se orgulha de dizer que é “capitão” e sua “especialidade é matar”.

Fonte: APUB

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