As universidades incluem. O mercado, ainda não

No 10º aniversário da Lei das Cotas, há muitas conquistas importantes que devem ser celebradas, mas, por outro lado, também é preciso apostar em políticas públicas capazes de sanar importantes obstáculos nesse processo.

Ao avaliar os aspectos positivos, destaca-se que, entre 2010 e 2019, o número de alunos negros no ensino superior cresceu 400%, de acordo com dados do site Quero Bolsa. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, intitulado “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, mostrou a força da ação afirmativa.

O levantamento do IBGE mostra que, naquele ano, os negros representavam 50,3% dos alunos de faculdades e universidades públicas do país. Foi a primeira vez na história que pretos e pardos passaram a ser maioria.

Apesar de representar um marco, há muito a avançar para acabarmos com o racismo estrutural que ainda permanece entranhado no país.

O mercado é excludente

Mesmo que pretos e pardos representem 56% da população brasileira, como sinaliza o IBGE, o abismo de oportunidades que os separa dos brancos é massacrante.

Infelizmente, apenas um terço dos cargos de diretoria de empresas no Brasil são ocupados por pessoas negras, como aponta o IBGE.

As discrepâncias vão além: em relação a um homem branco, de acordo com uma avaliação do Instituto Locomotiva, a média salarial de um homem negro é 46% menor.

Por essas e outras razões, a Lei das Cotas precisa ser ampliada, sobretudo para corrigir distorções que dificultam a superação desses paradigmas.

Diante das ações do Governo Federal, que demonstra claramente ser contrário às ações afirmativas, causa preocupação possíveis retrocessos na norma já em vigor, ainda mais que ela pode ser reavaliada neste ano.

Ampliação das políticas afirmativas

A exemplo do sistema de cotas, o ideal é que as políticas afirmativas fossem ampliadas para outros campos. Afinal, elas nasceram para corrigir erros do passado e devem ajudar a superar as desigualdades do presente para que possamos projetar um futuro igualitário.

Assim como existem ferramentas de acesso preciosas à universidade, era fundamental buscar soluções semelhantes para facilitar o ingresso no mundo do trabalho. É preciso superar a ideia de que as políticas afirmativas são um ato de generosidade.

Elas existem para eliminar graves problemas, como o racismo estrutural impregnado em nossa sociedade há séculos.

A luta antirracista caminha junto com o movimento em defesa da universidade pública e da política de cotas raciais.

Fonte: APUB

Facebook
Twitter
Email
WhatsApp