A partir do ano que vem, a Câmara Federal terá a maior “bancada da bala” da história. Foram eleitos ao menos 40 parlamentares saídos de forças de segurança, doze a mais do que em 2018 – sem contar aqueles que aderem à pauta armamentista, mas declararam outras funções ou não mencionam na urna quando se cadastram no TSE.
Não por acaso, a maioria dos eleitos é policial e filiado ao PL, atual partido de Bolsonaro. O levantamento foi feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com dados do TSE.
Nas assembleias estaduais, o fenômeno se inverteu. Neste ano, foram 56 deputados estaduais e distritais saídos das forças de segurança. Em 2018, foram 80. Mesmo com o recuo, o cenário ainda é preocupante.
Perfil bolsonarista: extremista e autoritário
Os novos deputados armamentistas são de partidos da extrema-direita bolsonarista.
Dos 40 que se elegeram para a Câmara, 20 estão no PL e os demais se dividem em outras siglas: PP, União Brasil, Republicanos, Avante, PSD, Podemos, MDB e Patriota. A única exceção de esquerda no meio dessa tropa é a delegada Adriana Accorsi, que se elegeu pelo PT de Goiás depois de dois mandatos como deputada estadual, mas não se alinha ideologicamente aos deputados da bancada da bala.
A ascensão desse perfil bolsonarista significa que a pauta sindical e corporativista dos policiais perde muita força e é substituída pela entrada massiva dos influencers, extremamente conectados com a agenda bolsonarista de radicalização, destruição do tecido social e das instituições democráticas. Foram, basicamente, eleitos com discursos de ódio, violência e, principalmente, fake news.
O que os motivam?
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esses parlamentares eleitos se aproximam do bolsonarismo radicalizado por dois caminhos: a defesa da liberação das armas e do excludente de ilicitude, que é a autorização para as polícias matarem sem terem que dar explicação.
Muitos deles acreditam também que se armarem seus seguidores, estabelecerão um movimento de opressão e intimidação contra quem pensa diferente (parte disso tem reflexo no recorde de mortes e de casos de violência política ocorridos durante as eleições deste ano).
Já outros, são defensores das pautas porque são patrocinados por empresas armamentistas. Embora seja ilegal a contribuição eleitoral por parte de empresas, eles recebem o financiamento fora do período eleitoral ou através de “caixa 2” nas eleições.
E tem aqueles que simplesmente desejam ver a maior quantidade de mortes possível. Não é a toa que eles são apoiadores ferrenhos de Bolsonaro que já disse que sua especialidade era matar.
É difícil identificar entre os políticos armamentistas onde eles se encaixam. Muitas vezes, suas intenções se misturam entre esses diferentes interesses que listamos acima.
A fatura do bolsonarismo
A composição desse Congresso é o alto preço que o país paga pela ascensão do bolsonarismo, que ultrapassa a figura do presidente. O primeiro alvo dessa bancada já é nítido: o Estatuto do Desarmamento.
Os dados mostraram que, nos catorze anos anteriores à aprovação dessa lei, os homicídios por arma de fogo cresceram em média 5,5% ao ano. Nos catorze anos seguintes (de 2003 a 2017), essa média caiu para menos de 1%. A mudança é atribuída pelos pesquisadores à restrição da posse de armas.
No entanto, a partir de 2023 esse cenário pode mudar, caso a sociedade civil permita que a voz e a pressão dos extremistas se sobreponham ao direito à vida e à civilidade (coisa que eles abominam).
Fonte: APUB