Bolsonaristas que tentaram golpe não são manifestantes, e sim terroristas

Data

O dia 8 de janeiro de 2023 já entrou para a história brasileira, mesmo que de maneira infame. Após invadirem e depredarem instalações e símbolos relativos aos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), sob o olhar conivente da Polícia Militar e do Exército, extremistas bolsonaristas foram além do protesto, e até mesmo do vandalismo, cruzando a fronteira do terrorismo.

As cenas de quebra-quebra, destruição do patrimônio, roubo de objetos e confronto com autoridades explicitaram uma ação orquestrada e golpista para tentar deslegitimar o resultado das eleições de 2022. Isso não pode ser confundido com liberdade de expressão ou de manifestação.

Nossa Constituição garante a livre expressão do pensamento e dos ideais políticos dos cidadãos, mas jamais o golpismo e o terrorismo, cujos autores materiais e intelectuais e seus financiadores precisam ser celeremente investigados e punidos nas formas da lei.

Todos aqueles que tentarem minimizar as ações dos extremistas, comparando-as às manifestações de outros grupos sociais (como movimentos sociais e sindicatos), estão apenas “passando pano” – como se diria no jargão popular – para incentivar novas tentativas de golpes contra o Estado Democrático de Direito.

Ação orquestrada

Além do negacionismo, da misoginia e da falta de clareza nas ideias, outras características marcantes de Jair Bolsonaro são o cinismo e a covardia, que ficaram novamente explícitas após o fracasso de mais uma tentativa de golpe.

Após destruir o país e piorar a qualidade de vida da população, Bolsonaro percebeu que suas chances de reeleição estavam cada vez menores e, por isso, passou a levantar falsas suspeitas em relação ao sistema eleitoral brasileiro, instigando seus seguidores extremistas a não aceitar a eleição de seu oponente.

Com medo de ser preso pelos crimes cometidos durante seu governo (inclusive, por incentivar ataques às instituições), fugiu para a Disney antes mesmo do fim de seu mandato, num ato de covardia que entrará para a história de nosso país.

E mesmo após a população brasileira repudiar os ataques aos Poderes na capital do país, Bolsonaro publicou um vídeo questionando o resultado das eleições, com evidente intuito de manter seus seguidores radicalizados. Poucas horas depois, agindo novamente com covardia, o apagou.

Depois de seus apoiadores destruírem e saquearem o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, Bolsonaro, hipócrita como sempre, fez posts no Twitter dizendo não ter participado de nada, e ainda comparando o terrorismo visto em Brasília com outras manifestações realizadas pela esquerda.

Não, não é possível comparar o que os bolsonaristas fizeram no dia 8 de janeiro com qualquer outro tipo de manifestação ocorrida no país. Aquilo tudo foi planejado, financiado e executado com o propósito de tomar o poder à força.

No mesmo dia, extremistas tentaram invadir refinarias da Petrobras para impedir a saída de caminhões que abastecem postos de combustíveis, e derrubaram torres de energia em, pelo menos, três estados. Juntas, essas ações tinham o evidente objetivo de desestabilizar o país para derrubar o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Só não conseguiram porque as instituições agiram de forma rápida e com firmeza assim que perceberam que agentes públicos, como o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e seu secretário de Segurança Pública, Anderson Torres (ex-ministro de Bolsonaro que, no dia dos ataques terroristas, também estava nos Estados Unidos, no mesmo local que o ex-presidente), estavam sendo negligentes com os ataques golpistas. Ibaneis foi afastado do cargo por 90 dias e Torres foi preso.

Com a prisão de quase 1.500 bolsonaristas radicais que participaram da tentativa de golpe em Brasília e de outros militantes identificados como organizadores e financiadores, as autoridades passaram a colher provas de que as ações foram coordenadas.

Conivência de agentes públicos

Como agravante, há ainda o fato de comprovadamente se tratar de uma ação orquestrada há muito tempo, com financiamento de empresários e possivelmente uso de dinheiro público, além de ter contado com a participação de integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal e do Exército na tentativa de emparedar a Democracia.

E não foi apenas o governo do Distrito Federal e sua PM que fizeram corpo mole para coibir os violentos protestos. O Exército tolerou, estimulou e alimentou acampamentos golpistas em suas instalações ao redor do país após as eleições. É preciso apurar e punir severamente quem, entre os militares, participou das ações junto aos extremistas.

Observados esses elementos, fica nítido que os ataques do dia 8 de janeiro foram planejados e executados com objetivos de destruir as bases democráticas do país, usando a força e a violência para isso. Basta lembrar que antes da posse do novo presidente, bolsonaristas foram presos enquanto planejavam ataques terroristas, com bombas, explosivos e armamentos pesados. Nem de longe é possível comparar qualquer uma dessas ações com outros tipos de manifestações.