Brasil forma mestres e doutores para desemprego

Brasil forma mestres e doutores para desemprego
Brasil forma mestres e doutores para desemprego

O problema tem saída, é preciso um outro projeto político voltado para o investimento na pesquisa e ciência
Entre 2014 e 2017, o total de brasileiros com doutorado passou de 168.677 para 229.732. Um crescimento de 36,1%. Já o número de doutores sem emprego formal em sua área de especialização passou de 41.406 para 63.603 no mesmo período. Ou seja, um aumento de 53,6%.
Esses dados são os últimos oficiais do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Esses números foram analisados na reportagem “Triturando Diplomas”, publicada na revista Piauí, em dezembro de 2021. No texto, fica evidente a cruel realidade de um Brasil que não valoriza seus pesquisadores e cientistas, levando grande parte ao desemprego, a desistirem da carreira científica ou a migrarem para outros países com ambiente mais favorável à ciência.
Nesta análise feita pela Revista Piauí, jovens doutores revelam a tristeza em ter que trabalhar em outra área ou mesmo “fazer bicos” devido ao desemprego. Há os que buscam carreira acadêmica, mas enfrentam mais dificuldades. “Para os doutores, uns jovens e outros nem tanto, a carreira de professor é um caminho – mas a pretensão esbarra na redução drástica de concursos para docentes efetivos,” cita o texto.
Em várias áreas, o atual governo desponta como o pior da década. É o caso do investimento na formação dos seus cientistas e pesquisadores, o menor nos últimos 10 anos.

Como viemos parar aqui?
Aqui cabe fazer uma retrospectiva histórica para entendermos como chegamos até aqui:
Um levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) mostra que a quantidade de programas de mestrado e doutorado subiu de 714, em 1995, para 2.147, em 2015.
Houve um crescimento de 401% no número de mestres e doutores, onda provocada pelo aumento de oportunidades de acesso à pós-graduação.
O que podemos chamar de boom da ciência veio acompanhado de políticas públicas e projetos de expansão das universidades. Se nos governos FHC (1995 a 2002), foram criadas 6 universidades federais, chegando a 45 em 2002, nos governos Lula (2003 a 2010), houve um salto: foram criadas 14 novas universidades federais e dezenas de institutos federais.
Porém, em 2016, o governo Temer conseguiu aprovar a chamada PEC do Teto de Gastos, que gerou a Emenda Constitucional (EC) 95 que congelou os investimentos em áreas sociais, especialmente na educação.
Na mesma toada, veio o governo de Jair Bolsonaro e seu projeto de desvalorização, perseguição e destruição da universidade e da ciência. O ano de 2019 começou com cortes no ensino superior. A situação se agravou ainda mais quando o Ministério da Economia, se aproveitando da crise da pandemia de Covid-19, cortou cerca de 90% dos recursos destinados à ciência e tecnologia, eliminando bolsas e inviabilizando projetos de pesquisa.

Fuga de cérebros
Este beco sem saída, muitas vezes, empurra pesquisadores altamente qualificados para outros países. É a chamada “fuga de cérebros”, que tem revelado um triste cenário para o Brasil – ainda mais quando se sabe que cada centavo investido em pesquisa geraria retorno para o desenvolvimento de um país.
Existe solução para o problema, já que mesmo com o descaso dos governos Temer e Bolsonaro tivemos crescimento nessa área na última década.
Há estrutura e profissionais altamente qualificados para alavancar a produção científica no Brasil, mas é preciso um projeto político diferente no poder, que invista e amplie o leque de políticas públicas voltada para a recuperação do nível de investimento em ciência, aumento do número e do valor das bolsas oferecidas a pesquisadores, contratação de mais profissionais, redução na burocracia e estímulo à inovação nos setores público e privado (que não investe quase nada em pesquisa).

Fonte: APUB

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