Casos de perseguição a professores universitários e pesquisadores se multiplicam pelo país

Nos últimos dois anos pelo menos 48 professores universitários saíram do Brasil porque sofreram perseguições políticas. Eles pediram ajuda a uma organização internacional (a Scholars At Risk) que auxilia acadêmicos ameaçados, e preferiram deixar a família e os amigos aqui para poder exercer sua profissão livremente e preservar sua integridade física e mental.

Desde a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder, houve um aumento de 1.200 % nesses pedidos.

A perseguição é tão grande, que professores brasileiros estão deixando de assinar pesquisas científicas com medo de ameaças. Não à toa, a expressão “um ambiente hostil” foi escolhida pela Revista Science, uma das publicações científicas mais prestigiadas do mundo, para definir a situação dos pesquisadores brasileiros.

De acordo com a renomada publicação, o cenário é de preocupação com a possibilidade de censura às pesquisas e ameaças não só de demissões, mas também à vida dos cientistas.

Conclusões semelhantes apareceram no relatório do instituto alemão Global Public Policy (GPPi) e em uma publicação da Universidade de Nova York que, pela primeira vez inclui o Brasil entre as nações onde as instituições de ensino superior estão ameaçadas.

É o caso da pesquisadora Larissa Mies Bombardi, da Universidade de São Paulo (USP), que resolveu deixar o Brasil por estar sofrendo ameaças por seus estudos sobre os agrotóxicos.

Rede de ódio

O que antes parecia uma realidade distante para um país onde a democracia avançava e que vivia franca expansão do acesso às universidades, de repente, se tornou comum, e hoje vemos uma verdadeira onda de perseguição a professores e pesquisadores.

Alguns setores radicais agem como se fosse normal intimidar docentes. Isso acontece porque o chamado “gabinete do ódio”, que opera dentro do governo sob o comando direto de filhos do presidente, inundou as redes sociais com mentiras, montagens e notícias criadas para enganar as pessoas e transformar as redes sociais em espaços de ataques.

Sob o anonimato nas redes sociais e se aproveitando do descaso das autoridades (muitas das quais também contaminadas por esse universo gigantesco de fake news), haters (como são chamados aqueles que espalham ódio na internet) agiram livremente para perseguir, ofender, humilhar e até ameaçar professores, pesquisadores e cientistas.

Já houve, inclusive por parte do presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores, campanha para que estudantes filmassem as aulas dos professores e divulgassem vídeos nas redes sociais, como forma de constrangimento.

Perseguição ao conhecimento e à ciência

Esse método tem um objetivo: atacar os espaços que são referência na produção de conhecimento e que incentivam o olhar crítico e questionador. Está claro que o presidente não quer uma sociedade com capacidade analítica e que faça críticas aos absurdos de sua agenda social, política e econômica.

Mas a aversão de Bolsonaro ao conhecimento não para por aí. Sua gestão diante da pandemia de Covid-19 não deixa dúvidas de que o presidente é um inimigo da ciência. Além de desdenhar de tudo que os especialistas diziam sobre combate ao novo Coronavírus, Bolsonaro fez questão de perseguir aqueles que o criticavam.

Sobre a atuação do mandatário, outra renomada revista científica, a The Lancet, declarou que “talvez a maior ameaça à resposta do Brasil à Covid-19 seja seu presidente, Jair Bolsonaro”.

E o maior exemplo disso aconteceu com o pesquisador Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, um dos maiores especialistas em estudos sobre a pandemia no Brasil, que foi perseguido pelo governo por suas críticas à condução do presidente durante a crise. Por conta disso ele foi  ameaçado.

Ao perseguir a ciência, o governo brasileiro vai assumindo contornos de um regime cada vez mais autoritário. Ou a sociedade brasileira reage, ou viveremos situação semelhante a um outro governo décadas atrás, que começou queimando livros para, em seguida, instalar campos de concentração.

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Fonte: APUB

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