Antonio Lobo – Pós-Doutor pela The City University of New York, Doutor em Geografia Humana pela USP, professor no Instituto de Geociências da UFBA | publicado no jornal A Tarde 18/1/2024
Genocídio, barbárie, terrorismo, vingança e território são termos, palavras e conceitos que estão povoando o noticiário internacional e os debates que permeiam a guerra em curso entre Israel e o Hamas. A violência extrema continua operando como linguagem da maldade e o número de vítimas não para de crescer na Faixa de Gaza. Segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, publicados pela Carta Capital, cerca de 24 mil pessoas já morreram, 70% mulheres e crianças. Segundo a BBC, mais de 8 mil crianças foram mortas e cerca de 9 mil ficaram gravemente feridas. Uma carnificina a céu aberto, um genocídio. Crimes que já estão marcados na história e jamais poderão ser esquecidos.
Diante da crueldade, eis a resistência povo palestino, que continua reafirmando seu território, e do corajoso e assertivo Governo da África do Sul, peitando os poderosos do mundo, disse não ao massacre e levou o Estado de Israel à Corte Internacional de Justiça que é o principal órgão judicial das Nações Unidas, criada em 1945 pela Carta das Nações Unidas, tendo sua sede no Palácio da Paz, em Haia, na Holanda.
A corte começou a funcionar em abril de 1946 tendo como missão inicial julgar os nazistas pelos crimes de guerra, principalmente contra o povo judeu. Agora, ironicamente, o Governo Judeu, liderado pelo extremista de direita, Benjamin Netanyahu, está sendo julgado por crimes contra os palestinos. A África do Sul acusa Israel de Genocídio e de causar deliberadamente danos físicos e psicológicos aos palestinos, além de impor condições de vida para levar à destruição física de um povo.
A África do Sul mostrou coragem e empatia com os direitos humanos, a justiça e a vida. Valores que estão cada vez mais raros e distantes em um mundo dominado pela ganância do acúmulo e por poderosos agentes que atuam no campo das finanças globais e das indústrias do petróleo e das armas, visando reproduzir seus capitais em detrimento da destruição humana. É válido o destaque de que o Governo brasileiro está apoiando a acusação de genocídio na Corte de Haia contra Israel.
Outro elemento a ser lembrado é o total descaso do Governo Netanyahu pela ONU, pois está desconsiderando as decisões da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da entidade. Isso mostra, por um lado, o total enfraquecimento do multilateralismo com a busca por soluções colegiadas para os conflitos, e por outro lado, um fortalecimento dos senhores da guerra e da ganância sem fim por territórios.
Essa é uma realidade que não pode ser aceita, tolerada ou minimizada, pois está ceifando vidas de forma massiva, eliminando sonhos e destruindo a esperança. É preciso avançar na construção de uma outra geopolítica, de outro mundo possível, que seja justo, includente e valorize a vida em detrimento dos interesses territoriais lastreados na guerra, na dominação e no escravismo. É urgente cultivar a esperança e ter profunda fé de que, sim, é possível sermos melhores e com justiça espacial.