Entre colegas antigos e novos, o professor da Faculdade de economia da UFBA, José Sérgio Gabrielli deu uma verdadeira aula sobre as origens e o desenvolvimento da crise atual no Brasil, a convite da Apub Sindicato para falar sobre a conjuntura nacional e as perspectivas do movimento sindical. Na mesa, estiveram presentes a presidente da Apub, Luciene Fernandes que abordou alguns pontos sobre os desafios atuais do movimento docente, e o Reitor João Carlos Salles, que foi prestigiar o debate e acabou contribuindo para a reflexão sobre os ataques que a Universidade pública vem sofrendo e o papel que ela cumpre na luta para superação da crise a partir da produção intelectual e do posicionamento político.
Gabrielli iniciou sua apresentação fazendo uma retrospectiva, tendo como ponto de partida a crise cíclica do capitalismo, que a partir de 2008, atinge a economia mundial, quando predominou no cenário a austeridade fiscal dos governos, cortes de recursos para o bem-estar social e alto nível alto de desemprego. No Brasil, nesse período estava sendo adotada uma política anticíclica do governo Lula, que funcionou com medidas de aceleração de investimentos, estímulo ao consumo e também por uma aliança rentista, que manteve altas taxas de juros para atrair investimentos de empresas privadas. Nos anos seguintes, o governo brasileiro continuou apostando na conciliação de classes e não promoveu mudanças estruturais; em 2013, a crise econômica atinge o país e ao mesmo tempo, as ruas são ocupadas pelas mobilizações exigindo mais direitos, principalmente para a juventude. A partir daquele momento, houve uma mudança da matriz econômica com a substituição de investimentos públicos pelo privado, desonerações fiscais e uso dos bancos públicos para estimular investimentos. Em 2014, a crise chegou com maior força e foram adotadas as mesmas medidas de arrocho com cortes de recursos em políticas públicas e serviços sociais. Apesar disso, a elite brasileira estava insatisfeita, querendo a diminuição do Estado, as desonerações para os bancos e empresas e as altas taxas de juros. O ano de 2015 foi o marco do rompimento da aliança de classes e com o fim do apoio ao governo Dilma no Congresso, consolidou-se o golpe parlamentar para efetivar o desmonte do Estado com as privatizações, desmonte das empresas estatais, entrega de terras e outros recursos naturais, como pré-sal, para o capital estrangeiro/transnacional, cortes e congelamento de gastos sociais, retirada de direitos e flexibilização das leis trabalhistas, entre outras coisas.
A explanação foi enriquecida com a participação de professores e professoras, que contribuíram com a análise e também fizeram perguntas que levaram ao aprofundamento do debate sobre os desafios que estão colocados para superação de uma crise do sistema – muito mais do que uma questão de representação política – que ainda perdurará por um certo tempo.
O professor chamou atenção para o fato de que não há ainda em jogo um projeto concreto e no qual as pessoas acreditem que se proponha a superar o sistema capitalista. Também afirmou que o que está em disputa nesse momento é o destino das verbas do Estado e quem vai pagar a conta da crise. Apesar de uma análise da conjuntura desanimadora, o professor ressalta que é necessário fazer a leitura pessimista da realidade, mas o mais importante é o “otimismo da prática”. Para ele, o desafio para os movimentos sociais e organizações políticas é conseguir traduzir os anseios da população para construir uma nova agenda, na qual caiba a demanda das mulheres, do povo negro, LGBTQI, juventude periférica e demais grupos que conformam a classe trabalhadora, e conquistar o povo para disputar os rumos do país. Mas isso só será possível com a reflexão e atualização das práticas. “O que mobiliza as pessoas para a luta não são apenas questões objetivas, mas as subjetivas também”, enfatiza ele ao afirmar que as pessoas precisam acreditar que é possível mudar, é possível vencer.
Nessa mesma linha, Luciene Fernandes fez questão de ressaltar que esta complexidade da sociedade está na Universidade também, e portanto, faz parte dos desafios do movimento docente incorporar as novas demandas. Segundo colocou, a maioria dos professores e professoras entraram na Universidade depois de 2006, ou seja, é um corpo docente novo, que traz novas pautas e reivindicações, estrutura de trabalho e previdência diferentes dos antigos, entre outras questões que precisam ser pensadas. É nesse sentido que a Apub tem articulado e promovido espaços, a exemplo do Grupo de Trabalho Direitos Humanos: gênero, raça/etnia e sexualidades, entendendo que essa também é uma forma de fortalecer a entidade para enfrentar os ataques contra a Educação Pública. Para isso tudo, é fundamental a participação dos/as docentes e a construção conjunta das políticas e pautas que orientarão o Sindicato.
A atividade marcou o 1º encontro do Ciclo de debates preparatório para o XIII Encontro Nacional do Proifes-Federação. O objetivo do ciclo é discutir os temas do Encontro com os/as docentes para que os/as delegados/os levem as sínteses e proposições que representam as ideias da base do Sindicato. O segundo encontro, que discutirá o tema da Educação Pública, será no dia 13 de julho, quinta-feira, no auditório 02 da Faculdade de Educação.