“A arte sempre nos convoca, pela memória e pelo revisitar do passado a entender o nosso presente”. Assim declarou o professor Paulo Henrique Alcântara (Teatro/UFBA) que realizou uma análise sobre o filme “O último metrô”, do diretor François Truffaut, exibido no cine-debate que abriu a Semana de Boas-Vindas da Apub na noite dessa segunda-feira, 05. A atividade aconteceu na no cinema Sala de Arte da UFBA, no Vale do Canela e teve mediação da professora Meran Vargens (Teatro/UFBA), do Conselho de Representantes da Apub.
A relação entre a narrativa do filme e momento atual, bem como as potencialidades da arte como resistência ao autoritarismo e fonte de esperança foram algumas das questões que permearam a exposição do professor Paulo Alcântara e as considerações dos/as demais presentes. Para Paulo, o filme, que trata das peripécias de uma companhia teatral lutando para manter-se funcionando numa França sob ocupação nazista, pode ser lido na perspectiva de uma dupla face: ” é um filme sobre o teatro, sobre os urdimentos do teatro. A gente assiste a esse desenrolar da feitura de uma peça…. o diretor, a relação com o elenco, o elenco entre si, a equipe técnica, as questões do texto. Mas é também um filme sobre política. É na época da ocupação nazista na França em [19]42. E A gente não vê um tiro, a gente não vê o campo de concentração, a gente não vê a guerra. As cenas quase não saem do teatro, mas o tempo todo a gente sabe o contexto politico”, explicou.
Ainda segundo o professor, o tempo histórico retratado no filme desperta para relações com momentos de obscurantismo e censura que o próprio teatro brasileiro viveu, a exemplo da Ditadura Militar, quando uma apresentação do espetáculo Roda Viva, de Chico Buarque, foi interrompida por um grupo paramilitar que subiu ao palco, espancou atrizes e destruiu cenários e camarins. “O filme é importante para a gente pensar na arte como resistência, no teatro que não fecha, que precisa seguir, a despeito de todas as ameaças”.
A presidenta da Apub, professora Raquel Nery, falou sobre como a Semana de Boas-Vindas e a atividade do cine-debate foi pensada como forma de acolhimento, resistência e também com objetivo terapêutico. “A gente faz a arte para se nutrir. Ela também nos ajuda porque ela recupera nos ajuda a criar o contorno do que somos, como povo, como resistência e como democracia – que nunca é um destino final, mas uma prática cotidiana”.
A importância da arte e do encontro como formas de não adoecer diante de uma conjuntura opressora foi reforçada pela professora Meran Vargens que, ao final do debate, sugeriu que a Apub realizasse eventos semelhantes regularmente.
A Semana de Boas-Vindas Apub continua hoje (06) com um café da manha e roda de conversa sobre aposentadoria e previdência, a partir das 08h, no PAF III/UFBA e com o debate “Mídia brasileira, redes sociais e opinião pública: o caso The Intercept e o fascismo algorítmico”, às 17h, na sede da Apub.