A Apub participou nesta quarta-feira (31 de agosto) do Colóquio “Cenário político atual e os impactos para a universidade”. Organizado pela Escola de Nutrição da UFBA, o evento fez parte das comemorações dos 60 anos da unidade e do Dia do Nutricionista. A diretora de Comunicação do Sindicato Luciene Fernandes compôs a mesa juntamente com a professora Lana Bleicher (Odontologia) e as estudantes Quézia Maia, representante do D.A. de Nutrição e Gabriela Brito do D.A. de Gastronomia; a coordenação foi da professora da Escola, Virgínia Machado. Acontecendo momentos após a consolidação do impeachment de Dilma Rousseff, o encontro abordou o golpe na democracia brasileira, as graves ameaças de retrocessos sociais já apontadas pelo governo Temer e quais seriam as formas de mobilizar e resistir para barrar quaisquer ataques aos direitos.
Luciene Fernandes iniciou sua fala destacando o quanto o momento era oportuno para do debate e como todo o processo de impeachment representou “um impacto muito grande na nossa democracia, que ainda é bastante instável”. Em seguida, enumerou os desafios da atividade do nutricionista em um país profundamente desigual e lembrou que a partir daquele momento haveria mais dificuldades a serem enfrentadas: “a gente tinha um governo democraticamente eleito com uma pauta que favorecia os trabalhadores e a nossa luta, antes, era porque esta pauta não estava sendo implantada. Agora é diferente; temos um governo neoliberal desde o princípio”, disse.
Tratando especificamente das universidades, Luciene criticou as grandes empresas que controlam o ensino superior privado oferecendo um ensino, muitas vezes, de qualidade duvidosa e promovendo a precarização do trabalho docente. Em relação ao ensino público, ela ressaltou que o processo de expansão das IFES não está completo e muitas passam por dificuldades com, por exemplo, obras inacabadas. Explicou também o avanço de pautas perigosas para a classe trabalhadora, como a terceirização, a reforma trabalhista e da previdência, privatização e desmonte do SUS. Ainda sobre a saúde pública, condenou a proposta de criação planos de saúde “populares”, que ofereceria uma cobertura insuficiente. Destacou, por fim, a participação da Apub e do PROIFES-Federação no Comitê Nacional de Educação contra o Golpe e sugeriu a criação de uma ampla Frente Nacional em Defesa da Educação para fazer o enfrentamento às medidas que viriam.
Por sua vez, Lana Bleicher retomou a exposição e denúncia das medidas de ataques aos direitos e aos serviços públicos. Apontou que, propostas como a PEC 241 (congelamento dos gastos públicos por 20 anos) promovem uma reformulação nos investimentos que vai se prolongar além da crise atual: “a crise pode passar, mas o arrocho vai continuar”, disse. Atentou também para o PL 257 (renegociação da dívida dos estados, com contrapartidas de “ajuste fiscal”) aprovado pela Câmara naquele dia e alvo de repúdio de diversas entidades de servidores públicos. Ela explicou que, embora a versão aprovada do PL não contenha proibição explícita de aumento salarial para servidores, ele continua limitando o crescimento das despesas primárias, o que, na prática, inviabiliza os reajustes. “É um ataque aos servidores? É. Mas é um ataque também a toda a população, que usa os serviços públicos”, afirmou.
Em seguida, Quézia Maia trouxe o ponto de vista dos estudantes, destacando como os alunos são afetados com cortes nas bolsas e ações afirmativas. Gabriela Brito expôs sua trajetória pessoal para reafirmar a importância de políticas de inclusão que permitiram a ela o ingresso na universidade.
Durante o debate, a professora Celi Taffarel, representando o Comitê UFBA em defesa da democracia e contra o golpe, avaliou que era necessário iniciar a mobilização imediatamente: “a classe trabalhadora precisa reagir”, disse. Cláudia Miranda, presidente da Apub, ressaltou que “para além das preferências políticas, o que foi afetado é o nosso direito ao voto” e que o programa que está para ser implantado pelo novo governo não foi referendado nas urnas. O diretor social e de aposentados da Apub Joviniano Neto também se manifestou reforçando que era preciso resistir: “Eu comecei a luta contra o golpe de 1964 desde do primeiro dia. E estou disposto a lutar desde o primeiro dia deste”, declarou.
Encaminhamentos:
- Fixação de faixas em repúdio do golpe pelas unidades da UFBA
- Realização de Assembleia da Escola de Nutrição; na pauta, a criação de um subcomitê em defesa da democracia na unidade