Começa em Curitiba o V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americano

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PO PROIFES-Federação está em Curitiba com uma delegação de 47 professores dos sindicatos filiados para participar do V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americano. O evento, organizado pela Internacional da Educação para América-Latina, com apoio do PROIFES e CNTE, começou nesta terça-feira, 3, e termina na quinta-feira, 5, com a meta de definir ações conjuntas das entidades presentes para defender a educação pública no continente.

Uma marcante apresentação da Orquestra de Música Popular Brasileira da Universidade Federal do Paraná (UFPR) abriu a noite como uma espécie de protesto musical da universidade pública latino-americana. Na sequência, o ato político antecipou o espírito de unidade que deve marcar o evento com mais de 500 participantes de 12 países.

Em sua fala, o presidente do PROIFES-Federação, Nilton Brandão (SINDIEDUTEC), refletiu sobre o fato do evento ser realizado em Curitiba, cidade que ficou marcada pela vigília contra a prisão do ex-presidente Lula e onde na tarde de hoje, servidores estaduais, incluindo professores, foram reprimidos pela polícia durante protesto contra o desmonte da previdência e da Educação no estado. Brandão valorizou o caráter de resistência do evento diante dos ataques que sofrem os trabalhadores da América Latina, em especial os educadores. A educação no Brasil, disse, “está sofrendo todo tipo de ataque, e a educação superior pública, em particular, está ameaçada por projetos como o Future-se, que praticamente determina o fim da autonomia da universidade pública, entregando sua administração para organizações que, com certeza, visam privatizar a educação pública no país”. Por isso, concluiu, este evento serve também para o Brasil somar forças e utilizar o exemplo da potência das mobilizações populares da Argentina, por exemplo, e defender a educação como um bem público do povo brasileiro.

De fato, a delegação argentina chega ao evento como um sopro de esperança no continente após a volta de um governo democrático popular. Sonia Alesso, secretária geral da Confederação dos Trabalhadores da Educação da Argentina (CTERA) falou justamente da necessidade de manter a mobilização nas ruas para barrar retrocessos na educação. “Na Argentina voltamos a sonhar, a ter esperança. Conquistamos o governo popular num contexto muito difícil, rodeados por ditaduras de governos de direita. A luta contra o neoliberalismo e o fascismo exigirá todo nosso esforço, coragem e inteligência”.

O presidente da CNTE, Heleno Araújo, definiu o encontro como um instrumento de luta e organização das entidades lembrando como o Plano Nacional da Educação (PNE) foi um exemplo positivo nesse sentido. “Tivemos um período muito gratificante durante a construção coletiva dos rumos que nós queremos para as políticas educacionais do nosso país, mas tudo isso foi desmontado. Esse instrumento de resistência vamos construir aqui no movimento, construir caminhos, alternativas, iluminados pelas ideias de Paulo Freire e tomar em nossas mãos os rumos democráticos de nossos países”.

A representante do Fórum Nacional Popular da Educação (FNPE), Andréa Gouveia, defendeu a sintonia das organizações que formam o Movimento Pedagógico para enfrentar os desafios políticos, mas também os desafios do exercício da docência. “Não há educação sem democracia e não há democracia sem uma educação libertadora. Estamos reunidos para falar da potência do Movimento Pedagógico e construir perspectivas de futuro para a docência”.

Duas centrais sindicais participaram da mesa de abertura. Raimundo Oliveira representando a CTB, resumiu que “a educação é o melhor jeito de pensar uma sociedade igualitária como queremos”.  Pela CUT, Tino Lourenço, apontou os movimentos da educação como protagonistas na luta contra o avanço do neoliberalismo no Brasil e no resto do mundo. E por isso mesmo, disse, o governo brasileiro “elegeu a educação como inimiga número um”. Nesse sentido, para Tino, “é fundamental unir as forças e estarmos juntos na luta pela educação inclusiva para todos”.

O convidado da UEN (Noruega), Rune Fimreite, se disse inspirado pelo “caminho e objetivo comum do Movimento Pedagógico para fortalecer a voz dos nossos professores e professoras”. Para Rune, “os educadores estão na linha de frente em temas ameaçados pelo conservadorismo, como os direitos humanos, os valores democráticos, o pensamento crítico, o agravamento da crise climática e a educação”.

Vindo da Suécia, Joakim Olsson, representando a organização LARARFORBUNDET, falou como estava satisfeito de acompanhar e compartilhar os espaços do Movimento Pedagógico. “Significa recarregar as baterias! Quero ser um mensageiro fiel e transmitir essa energia para o meu país. O que vi este ano com a IEAL, entre vocês, é a valorização urgente da necessidade das alianças, sem dúvida a única via possível de manter os direitos conquistados”.

O Vice-Presidente da Internacional da Educação (IE) e Secretário de Relações Internacionais da CNTE, Roberto Leão, lembrou que o neoliberalismo cresce no mundo inteiro e a ganância do capital produz uma exclusão muito grande. “O retrocesso civilizatório do neoliberalismo pode nos levar à barbárie”, disse. Para Leão, “não existe mais relação civilizada entre o capital e o trabalho”. Por isso, “não podemos esquecer o caminho das ruas” e concluiu dizendo que “a escola deve ser um espaço privilegiado de debate sobre a situação política de nossos países”.

Pensando Paulo Freire

O V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americano faz parte das comemorações ao centenário do educador pernambucano, Paulo Freire. Por isso, a palestra inaugural foi proferida pelo professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Centro Paulo Freire Estudos e Pesquisas, José Batista, que trouxe os pensamentos do patrono da educação brasileira como valores para defender a educação pública no continente.

Batista trouxe como conceito chave da palestra a ideia de Paulo Freire de que a “educação é construída na coletividade”, o que pode se aplica à luta que se exige dos movimentos da educação. “A educação não será nunca um ato individual, só pode ser construída na coletividade, é um processo social e, portanto, de construção solidária que tem a humanização como perspectiva”, apontou.

Assim como Paulo Freire defendia a educação como direito social, numa construção afetiva, o professor José Batista chamou atenção que a construção da própria democracia siga essa lógica, para que se chegue a uma “educação libertária esperançosa”. E que relação educativa humanizada é uma verdade que precisa ser reafirmada no Brasil e em toda a América Latina para retomarmos os rumos da justiça social e da solidariedade entre os povos.

O V Encontro do Movimento Pedagógico Latino-americano continua nesta quarta-feira, 4, com Análise de Conjuntura e painel sobre os desafios das organizações sindicais no recorte das políticas educacionais dos países.

Fonte: PROIFES-Federação