Debate sobre mulheres negras e universidade abre atividades da Apub e do PROIFES no Fórum Social Mundial

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A mesa redonda “Universidade e Mulheres Negras em espaços de poder” foi a primeira atividade da Apub e do PROIFES-Federação no Fórum Social Mundial 2018. O evento aconteceu na manhã de hoje (13), na Tenda Futuro do Trabalho, da CUT, no campus de Ondina da UFBA. Coordenada pela professora Auristela Félix (Contábeis/UFBA), a mesa trouxe como convidadas a reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia Joana Guimarães, a presidenta da Apub e vice-presidente do PROIFES Luciene Fernandes, professora Inacilma Rita (Contábeis/UFBA), professora Célia Sacramento (UEFS) e Caroline Anice (DCE/UFBA).

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O encontro discutiu as diversas formas como o racismo e o machismo estruturais afetam as oportunidades das mulheres negras de ascenderem socialmente e ocuparem espaços de poder, inclusive dentro da universidade. “A universidade não está isolada do resto da sociedade”, disse a reitora Joana Guimarães, ao ressaltar que, enquanto mulheres brancas estavam conquistando o direito ao voto, por exemplo, as mulheres negras permaneciam sofrendo as consequências da escravidão. E a universidade reflete essa desigualdade: “somente em 2013 tivemos a primeira mulher negra reitora de uma universidade federal [Nilma Lino Gomes, da Unilab]; hoje, eu sou a única negra”, disse. Ela fez uma reflexão histórica sobre as diversas violências sofridas pela mulher negra na sociedade brasileira, da escravidão e consequente sujeição sexual aos homens brancos, até a violência da própria abolição, que não foi acompanhada de políticas de inclusão. Essas condições históricas que até hoje se perpetuam de formas diversas são responsáveis por frear a ascensão das mulheres negras. Ainda de acordo com Joana, embora seja também papel da Universidade pensar sobre essas questões, a superação do racismo é uma luta que transcende esse espaço: “A Universidade é um lugar privilegiado para essas discussões, para mudanças de concepções, porém a transformação virá de toda a sociedade”.

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Como exemplo de uma das contribuições que a universidade pode fazer, a professora Inacilma Rita destacou a importância da presença de professoras negras que não apenas possam elaborar teoricamente, mas também terem responsabilidade social no exercício de suas funções. Célia Sacramento abordou a questão da violência doméstica e como recai sobre a mulher negra todos os aspectos da vulnerabilidade social: a dificuldade de acesso à educação e inserção no mercado de trabalho e o ciclo de violência: “A mulher negra tem três vezes mais chances de sofrer feminicídio”, apontou.

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A presidenta da Apub e vice-presidente do PROIFES Luciene Fernandes refletiu sobre como a cultura patriarcal está entranhada na sociedade a ponto de reproduzirmos a ideologia machista e racista “sem pensar”. Destacou ainda que esta mesma ideologia produz o apagamento do protagonismo das mulheres em diversas lutas. De seu lugar de dirigente sindical, alertou que o movimento ainda precisa avançar bastante no debate, aprofundando as reflexões e incorporando em suas pautas de luta as demandas das mulheres negras, assim como de todas as populações socialmente marginalizadas. Dialogando com a fala de Joana, ela apontou como a situação de exclusão se reproduz dentro da universidade ao citar um estudo realizado pelo professor Gil Vicente da Universidade Federal de São Paulo. Ele analisou a progressão na carreira de homens e mulheres considerando fatores como idade, tempo de serviço e estado civil. Notou que entre as pessoas casadas, as mulheres tendiam a ocupar os postos mais baixos na carreira docente. Entre docentes titulares, a diferença era de 107 homens e apenas 43 mulheres. “Mas entre as solteiras a situação se invertia completamente. As mulheres solteiras têm a melhor titulação em todos os níveis”, afirmou Luciene. “As mulheres, independentemente da classe social, acumulam dupla, tripla jornada de trabalho”.

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Foto: PROIFES-Federação

Representante estudantil, Caroline Anice destacou que estar na Universidade é estar em constante disputa, porque foi um espaço pensado para as elites. “A ocupação da universidade pelo povo negro, pelas mulheres negras transforma as bases nas quais ela foi construída”, disse. Ainda, a ocupação dos espaços de poder pelas mulheres negras, jamais será uma concessão, mas fruto da organização política para a luta, que se faz mais premente neste momento. “[Há] a necessidade de compreensão da conjuntura, de como a crise impõe na vida das mulheres negras. Nos estão sendo negados até o direito ao sonho”, finalizou.

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