O professor da UFBA José Sérgio Gabrielli foi o palestrante convidado na noite de ontem (28) para o debate “Avaliações das eleições e perspectivas”, promovido pela Apub Sindicato, Senge-BA, Sindipetro-BA, Instituto IZO e SOS Brasil Soberano. O evento, que lotou o auditório da Apub, foi transmitido ao vivo pelo Facebook do Sindipetro-BA (veja aqui). A coordenação da mesa foi do presidente do Senge-BA, Ubiratan Félix e do dirigente do Sindipetro-BA, Átila Barbosa.
Em sua análise (veja os slides aqui), Gabrielli abordou o cenário internacional e brasileiro tanto no período pré-eleitoral quanto durante o primeiro e segundo turnos, além de apontar alguns desdobramentos possíveis e desafios que serão colocados para o governo eleito e para os movimentos sociais.
Ele caracterizou a eleição de 2018 como um pleito no qual não foram discutidos programas para o país, mas, antes uma eleição “do contra”, na qual o antipetismo foi um fator importante e os valores morais e dos costumes sobrepujaram a pauta econômica e social, abrindo espaço para o autoritarismo. Nos antecedentes que permitiram a construção desse panorama, uma transformação do sistema capitalista internacional, com uma redefinição do neoliberalismo, na qual os países centrais se aproximaram do nacionalismo, além da intensificação da disputa entre Estados Unidos e China. Associada a isso, ocorreu também uma mudança no significado da própria democracia que, ao contrário do que no passado, não seria mais essencial para a manutenção do sistema capitalista. Desse modo, as democracias começaram a ruir “de dentro”. No caso do Brasil, as rupturas democráticas se dão no processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
A partir de então, o professor analisou a ascensão do presidente eleito Jair Bolsonaro, como um personagem que soube atrair os sentimentos antipetistas e antipolítica da sociedade naquele momento. O discurso antipetista, segundo ele, coloca a corrupção como o principal problema brasileiro, suplantando outras questões, como a persistência da desigualdade. Também para o professor, esse resultado só foi possível porque os valores do conservadorismo já existiam na sociedade brasileira; foram, porém, trazidos à luz pela atuação das igrejas neopentecostais e também pelo surgimento e popularização de alguns intelectuais de direita, como Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino.
Na área econômica, Gabrielli destacou que o grande capital brasileiro não foi apoiador de primeira hora de Bolsonaro, indicando uma mudança na composição do bloco de poder do capital do Brasil. “Paulo Guedes não está compondo com o pensamento liberal clássico; quem está assumindo os cargos são pessoas da periferia do sistema financeiro”, disse. Essas, trazem uma visão ultraneoliberal.
Ainda sobre a eleição em si, Gabrielli apontou a exclusão da candidatura do ex-presidente Lula e o atentado sofrido por Bolsonaro como pontos de inflexão; também abordou o uso sistemático das redes sociais e a predominância do WhatsApp, inclusive por vias ilegais,como um fenômeno até então inédito no mundo, que deram ao eleito “uma vitória conspurcada”.
Por fim, apontou algumas contradições estruturais que o novo governo deve enfrentar, como as articulações com o novo Congresso, a atuação de Moro como Ministro da Justiça e a movimentação das Forças Armadas. Para a oposição, destacou o processo nos dias finais da eleição, com a atuação ampla de setores da sociedade contra o autoritarismo representado por Bolsonaro, mas alertou que, esta nova direita é mais difícil de enfrentar pois tem realmente base social. Será através dos movimentos sociais, segundo ele, que haverá a intensificação da disputa.
Após a exposição, a atividade seguiu com contribuições e debate entre os presentes.