As questões de raça, etnicidades, gênero e sexualidades no trabalho docente, pautaram o último dia do I Encontro Nacional do GT Direitos Humanos do PROIFES-Federação. O evento acontece desde ontem (30), no Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e reuniu cerca de 80 docentes, estudantes e representantes de movimentos sociais. As discussões dos dois dias de encontro culminaram com a elaboração de um documento que será encaminhado aos sindicatos federados.
Abrindo a mesa, o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), João Bosco Hora Góis, falou a respeito da invisibilidade da produção científica das mulheres. “Se trabalharmos as métricas de produção vamos ver uma produção feminina muito grande o que transforma essa ideia de invisibilidade um certo mito. Acontece que do ponto de vista material a produção existe, mas é construída como algo que não aparece, tornando-se assim invisível”, explicou.
João Bosco ainda completou, “A rigor os números mostram essa falta de reconhecimento, dos 414 prêmios Nobel já entregues, apenas 18 foram recebidos por mulheres e desses, apenas 3 foram entregues para mulheres que trabalharam sozinhas em suas pesquisas, isso reflete a discriminação e o aleijamento que ainda existe no cenário científico”.
Após apresentar uma série de dados acerca da inserção das mulheres nas universidades, o professor finalizou sua exposição colocando que o processo é mais complexo do que reconhecer ou não as produções tanto de mulheres, como das demais minorias, “É preciso também dar oportunidades para que essas pessoas possam produzir cientificamente”, disse.
A representante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), Cecília Sadenberg, alertou para o “momento de profundo e assustador crescimento do fascismo em nosso país”. A professora destacou que todos aqueles e aquelas que trabalham com gênero estão sendo duramente atacados, “vende-se a ideia de que a ideologia de gênero é destruidora de família, quando na verdade o estudo de gênero trata da construção social do masculino e feminino. O gênero é um conceito fundamental para se pensar a situação dos homens e mulheres em nossa sociedade hoje. É apenas um dos componentes das relações sociais”, explicou.
A professora Cristina Teodoro, fez um resgate histórico da construção social e da abordagem das raças na estrutura educacional brasileira para introduzir a experiência desenvolvida na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), cujo currículo leva em consideração as lutas antirracistas no âmbito global e nos lugares, a valorização da diversidade e as diferenças culturais. Caterina Alessandra Reia, também professora da Unilab, falou sobre o como o estudo de gênero é trabalhado na universidade.
Após as discussões, a vice-presidente do ADURN-Sindicato, Gilka Pimentel, apresentou o projeto audiovisual idealizado pela Entidade, com o objetivo de trazer uma reflexão acerca dos desafios enfrentados pelas mulheres que ocupam espaços de poder, especialmente no âmbito da universidade. O vídeo é o primeiro de uma série que traz as trajetórias pessoais de oito mulheres: coordenadoras de curso, diretoras de centro, dirigentes sindicais e do movimento estudantil. O material será disponibilizado no canal do Youtube do Sindicato.
As discussões que permearam os dois dias de evento resultaram em um documento elaborado pelos membros do GT com contribuições da plenária. Esse material deve direcionar o trabalho dos sindicatos em suas bases no que se refere à luta pelos Direitos Humanos.
Fonte: ADURN Sindicato