APUB SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA

De mãos dadas com a democracia, pela universidade e por direitos

Especialista vê semelhanças entre extremistas brasileiros e estrangeiros

“Enquanto os populistas de direita na Europa e nos EUA rotularam seus adversários políticos como a anti-nação, as versões israelense e brasileira [do extremismo] estão desapropriando as populações indígenas”.

Essa é a análise do pesquisador israelense Daniel Kressel, bolsista no Departamento de Estudos Espanhóis, Portugueses e Latino-Americanos da Universidade Hebraica de Jerusalém e especialista nas viradas neoliberais ocorridas na América Latina, temática de um de seus livros.

Kressel publicou em novembro, na revista Jacobin, um artigo intitulado “A extrema direita quer desapropriar populações inteiras”, no qual comenta as especificidades do extremismo em seu país, Israel, e compara alguns destes elementos com o que ocorreu nos últimos anos no Brasil, demonstrando como os ideais autoritários de Jair Bolsonaro e seus apoiadores fazem parte de um processo global de rearticulação da extrema-direita.

Saudações nazistas

No início de seu artigo, Kressel observa que, enquanto Bolsonaro perdia o segundo turno das eleições presidenciais para Lula (que teve o apoio dos setores defensores da Democracia), em Israel Benjamin Netanyahu venceu as eleições realizadas no primeiro dia de novembro, “caminhando para uma coalizão de extrema direita de um tipo que o país nunca viu antes”.

Neste sentido, os dois países vivem momentos opostos. No entanto, o pesquisador aponta que tanto no Brasil quanto em Israel “líderes de direita e o fanatismo religioso que impulsiona seus movimentos políticos nunca foram tão parecidos”.

Kressel destaca a importância de um novo aliado de Netanyahu nas últimas eleições, o “provocador de extrema direita” Itamar Ben-Gvir, que defende a deportação de palestinos e africanos do Estado de Israel e a construção de um Estado exclusivamente judeu.

Lembrando das chocantes manifestações com estética nazista realizadas após a derrota de Bolsonaro nas eleições, Kressel destaca que “a retórica de Ben-Gvir e as saudações nazistas de membros do governo Bolsonaro e de apoiadores do presidente são simplesmente as manifestações descaradas de movimentos que fizeram da limpeza étnica o centro de seu projeto político”.

Escolhidos por Deus

Krassel prossegue lembrando que Netanyahu é um aliado declarado de Jair Bolsonaro, assim como Donald Trump e o primeiro-ministro da Hungria Viktor Orbán. Em comum, são extremistas que adotam discursos e práticas semelhantes a movimentos do passado, como o nazismo e o fascismo.

“Ainda assim, a afiliação de Bolsonaro a Israel vai além de ser uma alma gêmea de Netanyahu. Bolsonaro e sua esposa se identificam com Israel de uma forma quase bizarra”, aponta Krassel, que opina que Bolsonaro e seus seguidores não se identificam com Israel, mas sim, em vez disso, “acreditam que são Israel”.

Querem ser, em suas palavras, “Israel na América Latina. Assim como Israel, eles, os (brancos) brasileiros evangélicos do sul, acreditam ser o povo escolhido de Deus e, portanto, os verdadeiros ‘proprietários’ de seu próprio país”, e acreditam, ou dizem acreditar, fazer parte de uma luta contra um intruso estrangeiro, simbolizado neste caso não pelos palestinos mas pelos “comunistas” do PT (como se isso tivesse algum traço de realidade), pela esquerda e pelas minorias indígenas.

Para Kressel, o fato de Bolsonaro representar o agronegócio e o latifúndio “torna esse sentimento de ‘proprietário’ ainda mais evidente”, com o autor vendo uma “semelhança impressionante” entre a ocupação israelense na Cisjordânia e a apropriação de terras indígenas na Amazônia

“Os latifundiários não sentem necessidade de pedir desculpas pelas violações desenfreadas de direitos humanos que cometem, nem mesmo assassinato. Afinal, Deus está do lado deles. Esta é a casa deles, e contra um intruso a pessoa age em legítima defesa”, conclui Kressel, mapeando parte do enorme estrago cometido por Bolsonaro contra as populações indígenas, o meio ambiente e o futuro do Brasil durante sua gestão nos últimos quatro anos.

Tudo isso mostra que, por mais que Bolsonaro tenha sido humilhantemente derrotado eleitoralmente (afinal, gastou quase R$ 400 bilhões no último ano em ações eleitoreiras), o bolsonarismo continuará representando um perigo para a Democracia brasileira.

Fonte: APUB

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