“Estamos perdendo direitos. O sindicato vai fazer o quê?”

Quando estudamos algum fato ou passagem histórica, é bastante comum nos transportarmos para o período e imaginar como as pessoas viveram naquela época, lidando com adversidades de grandes guerras ou turbulências políticas.

Pode não parecer, porque é difícil termos dimensão do que vivenciamos no presente, mas, sem dúvida, estes últimos anos estão sendo momentos históricos, que serão lembrados e estudados pelas futuras gerações.

Não só em virtude da pandemia de Covid-19, que assola tragicamente todo o mundo e, em especial, o nosso país. Mas vivemos no Brasil, de 2016 para cá, mudanças drásticas no curso da história, com agitações sociais e políticas que afetam a sociedade de muitas maneiras (na maioria dos casos, de forma bastante negativa).

Entre os trabalhadores, é evidente que o período tem sido bastante duro, com a economia em crise, altas históricas na taxa de desemprego e perda de direitos em uma velocidade assustadora.

Retrocessos

Não é segredo para ninguém que desde 2016, com a tomada de poder por Michel Temer, a classe trabalhadora vem sofrendo derrotas, aprofundadas ainda mais no governo de Jair Bolsonaro.

Sempre com a mentira de “modernizar” e “dar dinamismo” às relações de trabalho, o que se vê, na verdade, é uma série de medidas que prejudicaram o trabalhador e nada ajudaram a economia.

A Reforma Trabalhista de 2017 e da Previdência de 2019 estão aí para provar. A promessa de geração de milhões de empregos ou o crescimento econômico não se materializou. Pior: os efeitos práticos foram a precarização das relações trabalhistas, o aumento do desemprego e uma economia cada vez mais em frangalhos.

Entre os servidores públicos, os prejuízos vieram de várias maneiras. A mais recente foi a aprovação da PEC Emergencial, que pode levar ao congelamento salarial por 15 anos, segundo estudos. A medida foi usada como chantagem para aprovação de uma nova rodada de auxílio-emergencial, mas não passou de uma enganação, já que seus efeitos financeiros serão futuros mas os recursos necessários são para agora (e governos não podem compensar no futuro os gastos do presente).

E teve a volta da campanha de ódio e difamação contra os serviços públicos, para convencer a população de que o servidor é vilão e inimigo da sociedade ou, nas palavras do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, “parasita” (ele se referiu assim aos servidores que lutam pelo direito a uma vida mais digna).

A proposta de uma nova reforma, agora a Administrativa (PEC 32/2020), vem fragilizar os servidores, priorizando a entrada do capital privado em setores estratégicos, acabando com a estabilidade de concursados e, ainda, dando carta branca para a intimidação e chantagem por motivos políticos e ideológicos.

Mas e o Sindicato, vai fazer o quê?

Frente a todo esse cenário, é evidente a importância das associações e sindicatos de trabalhadores na luta contra essas ameaças.

Basta lembrar como as articulações das forças sindicais no final da década de 1970 e início dos anos 1980 atuaram para assegurar direitos que foram garantidos na Constituição de 1988.

Foram graças a esses movimentos que os trabalhadores ainda têm direitos protegidos como jornada de trabalho estabelecida, pagamento de 13º e aposentadoria e, no caso dos servidores públicos, estabilidade para proteção contra desmandos políticos, assédios e pressões. 

Mas, acima de tudo, esse período nos ensinou que as lutas são coletivas, são de todos. O Sindicato não é um prédio ou uma sala para reuniões entre seus diretores. O Sindicato são todos os trabalhadores, inclusive quando estão nos próprios locais de trabalho.

O momento atual é tão duro que exige a retomada desse espírito de união. E com urgência.

É hora de demonstrar que, mesmo com as adversidades ou diferenças, a articulação e mobilização coletiva são fundamentais.

Não adianta terceirizar responsabilidades, pensar que outra pessoa vai promover as mudanças ou que as conquistas cairão do céu. É preciso sair da inércia, porque antes da conquista é necessário dar o primeiro passo, em um longo caminho que exige dedicação, negociações e lutas.

Essa é a escolha que a APUB fez, e que muitos outros estão fazendo.

Como exemplificamos no início do texto, estamos vivendo um momento histórico e, no futuro, teremos que olhar para quais atitudes tomamos frente a todos os retrocessos que aconteceram. A omissão não pode ser uma opção.

É preciso somar cada vez mais setores a esta luta tão importante e difícil, e que só é construída na coletividade.

Fonte: APUB

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