Na luta política cotidiana, seja do movimento docente ou de qualquer outro grupo organizado detrabalhadores/as, somos incessantemente provocados a refletir sobre nossas práticas, motivações, os princípios que lhe são subjacentes, as rotas que traçamos e que por vezes exigem ajuste. A conjuntura de extrema gravidade, em que a própria democracia vem sendo ameaçada e as/os trabalhadores/as, expropriados de seus direitos, condições de trabalho e até de sobrevivência, torna ainda mais urgente a atenção a nossas ações e seus efeitos, individuais e coletivos. Isso é ainda mais desafiador quando operamos a partir da diversidade, da alteridade, da diferença de posições, quando a única alternativa possível é que da dissonância e conflito resulte a convergência.
No dia 28 de junho de 2022, às 14h, ocorreu a Assembleia Geral Extraordinária de Docentes com pauta única “Indicativo de greve”. Numa assembleia extraordinária é feita discussão sobre a pauta e votação de encaminhamento. Todas as pessoas têm direito a voz e voto e esta é uma prerrogativa respeitada pela APUB, entendendo o seu importante papel de fomento à ampla discussão e livre circulação de ideias. Abrimos o precedente para informes por considerar que havia informações importantes para compartilhar. Durante a inscrição para os informes, um ruído de comunicação entre a professora Sandra Marinho e a presidência da mesa diretora transformou-se em discussão, com lamentável excesso, um evento que se manifesta como sintoma do machismo estrutural que marca nossa história e nossas relações cotidianas, um episódio que devemos enfrentar com firmeza. Essa situação foi logo identificada e ao final da assembleia houve uma retratação com pedido de desculpas ao vivo e com o compromisso de falar pessoalmente com a professora, que já não se encontrava no espaço.
No entanto, entendemos a necessidade de emitir esta nota e reiterar nosso pedido de desculpas à professora Sandra, às companheiras que compõem a maioria da diretoria da APUB e a todas as mulheres que compõem a base do nosso sindicato. Prof. Sandra, assim como as demais mulheres do movimento docente, sofreu com atitude machista, da mesma forma que mulheres que integram e integraram as gestões da APUB sofreram com situações similares com docentes que integram a oposição. Compreendemos a partir disso que o enfrentamento ao machismo deve ser feito por todo movimento docente, seja a oposição ou gestões da APUB.
Reconhecer o erro é parte do nosso compromisso com o aprendizado constante e com a autocrítica necessária para o aprimoramento das nossas ações individuais e coletivas. É importante lembrar que o eixo 1 do programa de nossa gestão declara a defesa da educação pública, democrática, socialmente referenciada, popular, feminista e antirracista. Este episódio nos mostra a necessidade de priorizar ações sobre temas sociais urgentes, atravessados pelas interseccionalidades entre gênero, raça e classe.
Mais do que reconhecer o erro, precisamos promover ações favoráveis à discussão, reflexão e transformação de atitudes. A APUB se orgulha de sua história ao contar com inúmeras mulheres que assumiram a gestão deste sindicato, muitas vezes em uma conjuntura adversa, e que souberam encarar os desafios. Mulheres que, no seu exercício de liderança, enfrentaram, cada uma a seu modo, em seu tempo e circunstâncias, a violência, simbólica e real, que marca nossa sociedade, em todos os seus extratos e atividades. O momento da conjuntura política atual nos convoca à união de todos os segmentos democráticos e progressistas. O nosso inimigo é o Governo Federal! Seguiremos firmes na luta que nos move, em defesa da educação pública como espaço de emancipação e liberdade.
A universidade pública muda vidas e a sua defesa é o que nos une!