Aprovada em primeiro lugar pela Lei de Cotas, Lorena Pinheiro tinha sido impedida de assumir por decisão judicial
Na tarde de quarta-feira (06), a otorrinolaringologista Lorena Pinheiro foi empossada na sede da FMB, no Largo do Terreiro e Jesus, se tornando a primeira professora cotista negra da instituição, depois de ser preterida na hora de assumir o cargo. A Apub esteve presente na cerimônia de posse, na figura da presidenta em exercício da Apub, Clarisse Paradis.
Aprovada em primeiro lugar na fase de heteroidentificação do concurso público pela Lei de cotas, para vaga de professora adjunta na UFBA, a médica não pôde comemorar o que para ela seria a realização de um sonho. “Ao entrar no site do concurso, esperando encontrar meu nome, me deparei com a candidata que atentou contra a lei de cotas e que derrubou a minha nomeação naquele momento. Eu fiquei sem chão, foi uma profunda sensação de abandono e injustiça!”, relembra Lorena, a respeito da contestação a aplicação da política afirmativa feita, judicialmente, pela candidata aprovada da ampla.
A Lei de Cotas de nº 12.990, para concursos públicos, implementada em 2014, obriga a reserva aos negros e negras 20% das vagas oferecidas nos concursos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos, visando reparar e equiparar a presença de pessoas racializadas em cargos públicos. Somente após dois meses e meio, desde a divulgação do resultado do concurso e no decorrer deste tempo ter recebido uma liminar que negava a sua posse, Lorena, finalmente, foi nomeada devido a uma determinação da 1° Vara Federal do Fórum de Justiça da Bahia que reconheceu sua aprovação enquanto cotista. Logo, sua nomeação foi publicada no Diário Oficial da União, na terça-feira passada (29)
A Apub tem atuado pelo fortalecimento da Lei de Cotas nos concursos públicos, tema trazido pela presidenta, Clarisse Paradis, em sua fala. “Essa luta é de todas e todos que lutam por uma universidade de fato democrática, sendo uma tarefa combater os privilégios. Enquanto sindicato, temos que fortalecer o cumprimento da Lei de Cotas no serviço público, pois sabemos que desde a sua aprovação, ela não tem tido a efetividade que sonhamos. Muitas vezes porque a lei se utiliza de subterfúgios para que ela não seja de fato aplicada”. Ela defendeu, ainda, a importância de haver um corpo docente representativo na Universidade, rechaçando qualquer interferência do Judiciário na autonomia universitária.
Além de Clarisse, também participaram da cerimônia figuras simbólicas para a construção de um novo cenário para a FMB, sendo esses/as: Lorene Pinto, a primeira diretora da instituição; o atual vice-diretor Eduardo José Farias, primeiro diretor negro da unidade, Antônio da Silva, além de representante do DCE-UFBA. “A gente está reconstruindo uma história que, de Juliano Moreira pra cá, é como se fosse uma pausa, que termina agora, com a entrada de uma pessoa que é a cor dessa cidade. Você faz parte dessa história, Lorena, e juntos podemos transformar ainda mais a história dessa escola, para a comunidade negra”, comemorou o diretor.
Lorena agradeceu a todos pelo apoio inesperado que recebeu no momento difícil que passou e em entrevista, a mais nova professora da UFBA, dedicou o resultado a alguém que foi essencial para sua trajetória. “A minha mãe, em especial, quando falou que eu era capaz, e deveria, sim, fazer o curso de medicina, passar na universidade pública, fazer o mestrado e doutorado para seguir o meu sonho de ser professora na universidade federal. Essa vitória eu dedico à minha mãe, Maria Ivonete Pinheiro Figueiredo. Ela já se foi, não está aqui, mas, certamente, está vibrando do céu, de onde ela estiver”, recorda.