Contribuir para a construção de linhas políticas pautadas pela defesa intransigente da Democracia e do Estado Democrático de Direito, da Educação Pública e gratuita, com Universidades autônomas e socialmente referenciadas, e pelo respeito aos Direitos Humanos foram os objetivos centrais da participação da Apub Sindicato no XV Encontro Nacional do PROIFES-Federação, que aconteceu entre 01 e 04 de agosto em Belém (PA). O evento, instância deliberativa e orientadora para as ações da Federação, é momento estratégico para o debate e elaboração de políticas, que contaram com a colaboração intensa da Apub.
O sindicato levou ao Pará uma delegação com 10 professoras e sete professores que apresentaram 14 textos e realizaram diversas intervenções durante os debates.
Conjuntura e papel do movimento docente
A complexidade da conjuntura atual e quais as estratégias a serem utilizadas pelo movimento docente permeou várias discussões durante o Encontro. A presidenta da Apub, professora Raquel Nery, apresentou o texto conjunto da diretoria do sindicato que destacou a potencialidade da Educação como pauta agregadora, conforme indicado pelas manifestações das ‘Jornadas de Maio’. “Consideramos que é necessário observar com atenção que a pauta da Reforma da Previdência foi suplantada pela da educação, que se mostrou mais poderosa e mais capaz de formar essa frente ampla”, afirmou. Ela defendeu que a Federação se articule nacionalmente e intervenha de modo qualificado em torno de quatro eixos: Educação, Ciência e Tecnologia, direitos individuais e sociais e defesa da Constituição e da legalidade. A professora Luciene Fernandes (ICS/UFBA), que é também vice-presidenta do PROIFES, seu sua contribuição com o texto “Guerra Híbrida e o papel do movimento sindical docente”, no qual analisa o conceito de guerra híbrida como um conflito geopolítico não tradicional que atua através da manipulação das consciências para levar o próprio povo de um país a se insurgir contra suas instituições. “Os ataques estão sempre juntos; por um lado a há questão econômica, e no caso do Brasil, ela foi implantada através dessa pauta conservadora”, exemplificou e apontou para a necessidade de analisar os mecanismos da guerra híbrida e atuar na disputa pelas consciências: “É um trabalho de formiga, de volta às bases para disputar todo dia a consciência das pessoas e acho que como movimento sindical é necessário que a gente faça isso”.
O vice-presidente da Apub, professor Emanuel Lins (Direito/UFBA) observou que no ciclo de direita que se instala no Brasil, a educação foi eleita inimiga. “Não nos resta outra alternativa, na condição de Federação, que declarar oposição ao governo Bolsonaro. [Oposição essa que] precisa ser construída em torno de um programa mínimo, com eixos estruturantes.”, disse e propôs a elaboração de um texto final do Encontro que contivesse os eixos centrais de luta e atuação do PROIFES. ” O PROIFES precisa assumir um papel protagonista e, quando a gente tem um texto único, de conjuntura, temos a capacidade de dialogar com nossas bases e entidades parceiras”, afirmou.
“A tarefa dos sindicatos de docentes não pode ser exclusivamente na questão corporativa, os sindicatos de docentes [têm de] defender a democracia”, declarou a professora e delegada da Apub no Encontro Cláudia Miranda (FACED/UFBA). Ele reafirmou a importância da articulação com os movimentos sociais e não se omitir a respeito de retrocessos que estão ocorrendo em diversas áreas.
Ainda sobre as tarefas do movimento, a professora Marta Lícia de Jesus, diretora e delegada da Apub, destacou que é preciso disputar permanentemente o sentido da pauta da Educação, sem perder de vista que ela deve ser pública, gratuita, inclusiva e diversa: “a proposição é que o PROIFES continue realizando papel importante em eventos da envergadura da CONAPE. Que em 2020 a gente possa fazer uma atividade nacional semelhante, combinado com inciativas locais, junto a movimentos progressistas e populares para que a gente não fique com pouco lastro e pouco apoio em relação a alguns conteúdos”.
As estratégias de combate ao “Future-se”
O debate em torno do projeto do Ministério da Educação, “Future-se”, que prevê fundos de investimento privado para as Universidades Públicas e administração via Organizações Sociais, foi extenso durante o Encontro. Houve consenso em relação à ameaça que o projeto representa para a autonomia universitária e surgiram algumas propostas em relação às táticas de enfrentamento. Em nome da delegação da Apub, o vice-presidente Emanuel Lins destacou que “a proposta do governo é sagaz porque dialoga com um pensamento que se inseriu dentro da universidade, com um sentimento que existe, de quem trabalha com startups e empreendedorismo”. Ele afirmou que o “Future-se” esvazia a universidade do ponto de vista patrimonial e de gestão, mas ainda existem pontos não esclarecidos a respeito. “Propomos aumentar essa discussão dentro dos sindicatos de base realizando seminários e, a partir desses seminários, tirar uma análise fina do programa “Future-se” e, fundamentalmente, elaborar uma tática de resistência ao programa a partir desses seminários locais e nacionais”.
A professora Míran Reis (UNILAB) lembrou que o Future-se não é o primeiro ataque à autonomia da Universidade: “a gente não pode esquecer do Vélez mandando filmar professor, da ideia da ‘balbúrdia’ que foi apresentada inicialmente como justificativa para o bloqueio do orçamento, da nomeação de interventores, dos desrespeitos às listas tríplice e do ataque ao edital da UNILAB. Os robôs viralizam mentiras e o ministro, inclusive, propaga. Há um fingimento de normalidade democrática. [Proponho] que o PROIFES lidere uma articulação na mobilização de uma campanha informativa que possa pensar estratégias de publicidade que façam frente às calúnias difundidas pelo governo”.
A necessidade de realizar campanhas de mídia foi reforçada pela professora Fernanda Almeida (Creche/UFBA), que sugeriu a realização pelo PROIFES de uma massiva campanha de divulgação das atividades das IFES e seu papel no dia a dia da população. A sugestão foi acompanhada pela professora Leopoldina Menezes (Matemática/UFBA), delegada da Apub, que exemplificou com “Feira do Conhecimento”, evento do sindicato em fase de organização.
Direitos Humanos como pauta essencial
A compreensão de que os Direitos Humanos não são secundários em relação à pauta econômica norteou as intervenções da Apub neste tema. O diretor de Direitos Humanos do PROIFES, e diretor da Apub, Nildo Ribeiro apresentou dois textos no XV Encontro Nacional PROIFES “Barreiras arquitetônicas na universidade” e “Trajetória do GT Direitos Humanos”. Ele apontou que todas as pessoas têm possibilidades de estar em situação de exclusão e que a pauta de Direitos Humanos não pode ser vista como secundária em relação ao momento político atual. Destacou ainda a necessidade de construir uma narrativa positiva sobre esse tema e também apresentou algumas das ações que o GT tem realizado como a campanha “Quebre o Silêncio” contra a violência às mulheres.
A professora Mírian Reis também fez uma intervenção, relembrando o ataque transfóbico ao Edital da UNILAB. Afirmou que também é pauta do movimento docente defender a Universidade como espaço de formação e construção da equidade. “A gente precisa não somente de políticas de igualdade, mas promover políticas eficientes de equidade”, disse. O professor Joviniano Neto, diretor e delegado da Apub, além de presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-BA, destacou a luta por Direitos Humanos no contexto da Ditadura Milita e propôs a elaboração de uma agenda de ações pelo PROIFES. A participação do professor Joviniano incluiu também diversas proposições de valorização e reconhecimento aos professores e professoras aposentados/as e sua efetiva participação nas agendas de luta.
Ciência e tecnologia na redução das desigualdades
A Apub teve uma participação propositiva e diversa em relação ao tema de Ciência e Tecnologia. A professora Izaura Cruz (FACED/UFBA) destacou os obstáculos à permanência das mulheres nos cursos de áreas exatas seus correlatos.
A professora Danielle Medeiros (IMS/UFBA) destacou as mudanças nos processos de avaliação dos programas de pós-graduação, bem como a implantação de novos – que visem diminuir as desigualdades regionais.
E o professor João Augusto Rocha apresentou um texto em formato de cordel
sobre como a Educação poderia nos livrar do fascismo e do atraso. “A democracia é quando todas as pessoas são valorizadas em uma sociedade. E quem constrói ela é a escola”, disse.
Veja abaixo trechos do cordel