Nota de denúncia e pesar pela vida de quem luta e pela natureza

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Com tristeza e indignação, acompanhamos o desfecho das buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips, ambos dedicados defensores da Amazônia, do meio ambiente e dos direitos humanos.

Esses dois companheiros foram mortos não somente pelo descaso do Estado. Eles, assim como tantos outros lutadores, foram criminalizados e assassinados pela ganância e violência do sistema capitalista e seu modo de desenvolvimento predatório, exploratório, racista e sem limites, tendo o governo brasileiro como principal executor desse projeto.

Sabemos que não é recente que o Brasil ostenta, infelizmente, a posição de 4º país que mais criminaliza e mata defensores e defensoras de direitos humanos no mundo. Mas é inegável o aumento, nos últimos anos, da violência contra ambientalistas e contra lutadores/as por direitos. Somente, em 2020, ao menos 20 ativistas ambientais foram mortos, segundo dados da organização internacional Global Witness. Já o relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgado em abril, aponta que o número de mortes em conflitos nas zonas rurais do país aumentou 1.000% entre 2020 e 2021.  

A Amazônia, especialmente, concentrou 52% de todos os conflitos por terra do país no ano passado. Nos nove estados que compõem a Amazônia Legal aconteceram 80% dos assassinatos decorrentes dos conflitos. E as vítimas são principalmente oriundas das comunidades e povos (indígenas, quilombolas, camponeses, ribeirinhos, pescadores e outros), responsáveis por manter as florestas em pé, por garantir a manutenção da biodiversidade, a preservação dos biomas, porque isso tudo faz parte dos seus modos de vida. Elas vêm denunciando sistematicamente o desmatamento, as invasões de garimpeiros, madeireiros, narcotraficantes, do agrohidronegócio e das mineradoras que se sentem respaldadas e legitimadas pelas ações do governo federal.

Por isso, tantas violações e crimes não podem ser desvinculados do desmonte acelerado e irregular da legislação e de todo aparato de proteção ambiental e dos povos. Assim, o governo federal deve ser responsabilizado por executar diretamente um projeto de genocídio, etnocídio e de espoliação da natureza em favor de empresas e empreendimentos, legalizados ou não.

Nesse cenário de brutalidade e tragédias, não podemos nos calar nem nos render ao desespero. É preciso resistir e insistir em outro projeto de país e de desenvolvimento, onde caibam a diversidade dos povos e as florestas em pé.

Por nossos mortos, nenhum minuto de silêncio. E por nosso futuro, uma vida inteira de luta.