O golpismo e o fascismo são irmãos e precisam ser varridos definitivamente

Com cenas de selvageria e violência em Brasília, o dia 8 de janeiro de 2023 ficará marcado na história como uma data de derrota para o golpismo e para o fascismo no Brasil – e também de vitória para o Estado Democrático de Direito.

Dois lados da mesma moeda, fascismo e golpismo precisam ser definitivamente varridos de nosso país, por sua incompatibilidade com valores mínimos de ética, civilidade, humanidade e Democracia.

Não haveria tentativa de golpe se o fascismo não tivesse sido cultivado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Ele é o principal responsável por toda a instabilidade que os extremistas, por se recusarem a aceitar a derrota eleitoral, vinham tentando criar para paralisar o Brasil. Dois dias depois dos ataques na capital, ele, que fugiu para a Disney com medo de ser preso, publicou um vídeo questionando novamente o resultado das eleições e depois o apagou.

Mas, além de identificar e punir organizadores, apoiadores e financiadores dos movimentos golpistas (bloqueios das estradas, acampamentos nos quartéis e ataques em Brasília), será necessário conscientizar massivamente a população, realizando uma transição cultural para o país voltar à normalidade das disputas democráticas, como acontecia antes de o bolsonarismo surgir e se tornar um movimento fanático e perigoso.

O ódio e a violência que criaram e abasteceram o bolsonarismo precisam ser sepultados para que a harmonia e a paz social sejam as bases das relações humanas em nosso país.

Só assim, com equilíbrio e diálogo, o Brasil conseguirá retomar o caminho do crescimento justo e sustentável, superando suas desigualdades históricas.

A violência bolsonarista precisa ser substituída pela divergência saudável de ideias, e aqueles que seguem se recusando a aceitar a convivência democrática precisam ser contidos dentro dos parâmetros da lei.

Sem anistia

Já no dia seguinte às fracassadas movimentações golpistas de 8 de janeiro, milhares de manifestantes tomaram as ruas de diversas capitais para defender a Democracia e pedir punições aos envolvidos nos ataques terroristas contra os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).

Entre os gritos e as palavras de ordem das manifestações que ocorreram em todas as regiões do país, uma demanda ecoou mais forte: “Sem anistia!”.

Essa também é a opinião da imensa maioria dos brasileiros, enojados com a destruição oportunista de bolsonaristas que vandalizaram prédios públicos, saquearam objetos, destruíram mobiliários, relíquias e quadros de valor financeiro e histórico inestimável.

Para a imensa maioria da população, é preciso que a Justiça e as instituições brasileiras funcionem para identificar e punir os responsáveis materiais, intelectuais, políticos e financeiros por essa tentativa de desestabilização do país.

Segundo pesquisa Datafolha, 93% dos brasileiros foram contra a ação dos terroristas em Brasília. Apenas 3% foram favoráveis. Esse número sobe para 10% entre os eleitores de Bolsonaro. Só 9% (bolsonaristas, obviamente) acham que ninguém deveria ter sido preso.

A mobilização golpista no Brasil foi incentivada e planejada ao longo dos últimos anos sem que houvesse muito disfarce. O então presidente Jair Bolsonaro fez inúmeros discursos e postagens para convencer seus seguidores a não aceitar o resultado das eleições em caso de derrota.

Vencido o autoritarismo, é preciso engajamento e firmeza para que não haja agora a mesma conivência com aqueles que colocam a Democracia em risco, como o que ocorreu ao final da ditadura militar que vigorou entre 1964 e 1985, mas deixou aberta a possibilidade de novos golpes justamente pela falta de punição dos criminosos do regime.

Como diria um ditado espanhol, “crie corvos e eles lhe arrancarão os olhos”.

Golpistas isolados

O Brasil só irá superar as ameaças golpistas e o fascismo ser houver uma severa responsabilização criminal e política dos responsáveis pelos recentes ataques à Democracia e ao sistema eleitoral brasileiro. É preciso investigar e punir os envolvidos, sejam eles políticos (com ou sem mandato), empresários, servidores, militares ou qualquer cidadão que estimule ou represente ameaça à ordem democrática.

Derrotando a campanha por eleições diretas e inviabilizando posteriores investigações e responsabilizações, em 1985, os militares deixaram o poder de forma negociada.

Com isso, não foram devidamente responsabilizados e seguiram colocando, até hoje, a vida institucional do país como refém de possíveis golpes, o que não é condizente com suas funções constitucionais.

Além disso, empresários e financiadores de grupos e articulações golpistas precisam ser encontrados e igualmente responsabilizados. O fascismo brasileiro não teria a mesma força se não fossem seus apoiadores materiais, os mesmos que financiaram transporte, comida e alojamento para os golpistas destruírem Brasília, e eles não podem ficar impunes.

Igualmente, não podem passar impunes políticos e influenciadores extremistas que passaram a gestar a tentativa de golpe quando perceberam que seu candidato poderia não se reeleger. Muitos desses influenciadores até foram demitidos de veículos de “imprensa”, mas continuam estimulando seus milhões de seguidores com mentiras e ideias radicais.

Por mais que boa parte deles tenha optado por uma postura cínica e covarde, sem coragem para defender explicitamente a tentativa de golpe para o qual trabalharam, é mais do que público e notório quem são e onde estão essas pessoas, já que suas palavras, vídeos e postagens foram essenciais para incentivar os fanáticos que atacaram as instituições na capital do país.

Por isso, é dever de todas as pessoas que têm compromisso com a Democracia se engajar na luta pela punição, pela desmonetização e pela desmoralização do fascismo bolsonarista.

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