“Afinal, o governo Temer vai ou não vai financiar a educação?”. O questionamento partiu do reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rui Vicente Oppermann, em entrevista após sua conferência, realizada na manhã desta quarta-feira, 13, durante a CRES 2018. Oppermann criticou a atual política brasileira dizendo que “o governo brasileiro não quer continuar financiando direitos constitucionais como educação, saúde e segurança. O plano maior é o desfinanciamento dos direitos dos cidadãos”, falou sobre a aprovação da emenda constitucional 95 que congela os investimentos públicos por 20 anos.
Ao apresentar a realidade da educação superior no Brasil, Oppermman, que também é vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), falou sobre “Os desafios contemporâneos das Universidades em sua interação com a sociedade”. Para o reitor, a financeirização é o grande problema na região, “o lucro passou a ser o orientador”.
Oppermann apresentou dados que mostram o enorme crescimento da educação superior privada no Brasil. Para ele, o maior problema é que o aumento das matrículas, que gerou a inclusão, acabou se convertendo num negócio rentável. A preocupação está justamente na expansão da cobertura pelo setor privado com fins lucrativos, que cresceu mais de 600% de 2000 a 2014.
“Esta talvez seja a maior e mais preocupante transformação observada desde a CRES 2008 na educação superior no Brasil. E há fortes indicativos de que estas políticas privatistas se estenderão para toda a América Latina e Caribe, como parte de um modelo de transformação mercantilista da educação superior”. Por isso, disse, há uma forte necessidade que a CRES 2018 se posicione em defesa da educação superior alinhada com o desenvolvimento dos países da região: pública como um bem social e gratuita com garantia de permanência. Ele diz que até o setor privado sem fins lucrativos concorda com isso.
“Há um setor privado de alta qualidade que devemos olhar como parceiros porque o mercantilista também é uma ameaça pra eles. A grande ironia é que o que chamam de privado mercantilista, portanto capitalista, vive de subsídio oficial. O capitalismo brasileiro é subsidiado com dinheiro público que deveria estar sendo investido nas universidades federais. Isso é uma opção política: investir na rede mercantil, o que a curto e médio prazo, põe fim à educação superior como um bem, um patrimônio da população brasileira. “Somos contra a educação mercantilizada feita por pessoas que enquanto comem ovos com bacon no café na manhã no Wisconsin, olham o celular para ver quanto ganharam com a educação superior no Brasil”.
Após a conferência, houve um debate sobre como ressignificar a educação superior na América Latina e Caribe para conectá-la aos problemas da região e não responda aos interesses do capital financeiro. O PROIFES-Federação participou do debate.