O Brasil, que já foi notícia na década passada por ter saído do Mapa da Fome, chegou à metade do mandato de Jair Bolsonaro com um em cada quatro habitantes vivendo em situação de vulnerabilidade e extrema pobreza.
Essa triste realidade foi divulgada, em dezembro de 2021, no estudo chamado Síntese de Indicadores Sociais, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A situação, que já é muito ruim, poderia ter sido ainda pior se não fossem os programas sociais implementados durante a pandemia (contra a vontade do próprio governo). O auxílio emergencial evitou, temporariamente, o agravamento da pobreza no país em 2020, em meio aos impactos causados pelas escolhas do governo, que privilegiaram o novo Coronavírus e não a vida dos brasileiros. Sem os programas sociais, os 10% mais pobres da população teriam sobrevivido o ano passado, em média, com apenas R$ 13,00 por mês, ou R$ 0,43 por pessoa a cada dia.
Importante destacar que o governo Bolsonaro lutou muito contra o valor de R$ 600 aprovado pelo Congresso Nacional. O Planalto não tinha intenção de implementar qualquer auxílio. Depois da pressão, tentou aprovar um valor na casa dos R$ 200. Uma vergonha, porque representaria cerca de 20% do salário-mínimo oficial. Os partidos de oposição queriam um benefício de, pelo menos, R$ 1.000,00.
Em 2021, o presidente Jair Bolsonaro também foi contra a prorrogação do auxílio emergencial (que ficou com valores ainda mais baixos), chegando a responder que “quem quer mais é só ir ao banco e fazer empréstimo”, desconsiderando o desemprego recorde (fruto dos fracassos do próprio governo) e a volta da fome no Brasil.
Mas mesmo com o auxílio emergencial, 12,046 milhões de brasileiros (5,7%) viveram abaixo da linha de miséria (rendimento médio mensal de R$ 155 por pessoa) em 2020, o pior nível desde 2015.
Extrema pobreza: Pretos, pardos, mulheres e crianças
Pelo estudo do IBGE, entre os grupos etários, crianças de até 14 anos apresentavam o maior percentual de extrema pobreza (8,9%) e pobreza (38,6%), e mulheres pretas ou pardas tinham as maiores incidências de pobreza (31,9%) e extrema pobreza (7,5%). Além disso, as famílias cujas responsáveis eram mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos, apresentavam a maior incidência de pobreza: 17,3% dos moradores desses arranjos tinham rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 1,90 e 57,9%, inferior a US$ 5,50 por dia.
O Instituto utilizou nessa análise os parâmetros do Banco Mundial de US$1,90 para extrema pobreza e US$ 5,50 para a pobreza, em termos de Poder de Paridade de Compra a preços internacionais de 2011, dentre outras linhas de pobreza utilizadas para diferentes propósitos no país.
Por outro lado, pessoas brancas tiveram rendimento mensal médio 73,3% maior do que a população preta e parda em 2020, segundo o IBGE. A população ocupada branca recebia, em média, R$ 3.056,00 no ano passado, enquanto as pessoas pretas ou pardas tinham renda média de R$ 1.764,00.
Junto a todos estes dados, temos o impacto da pandemia incidindo também diretamente na população negra. Os prejuízos financeiros e de saúde causados pela Covid-19 pesaram muito mais sobre mulheres, negros e pobres. É o que apontam os dados sobre mercado de trabalho e sintomas gripais aferidos pelo IBGE no mês de junho de 2020. O inquérito epidemiológico revelou um abismo racial no alcance da doença. Entre aqueles que disseram ter tido mais de um sintoma de síndrome respiratória, 68,3% são pretos ou pardos, ante apenas 30,3% de brancos. Ou seja, é resultado de uma interseção entre pobreza, maior frequência na informalidade e precariedade nas condições de vida, o que atinge mais diretamente os negros e pobres no Brasil. Isso converge para a piora das condições de saúde dessas pessoas.
De acordo com a pesquisa, 39% dos trabalhadores pretos e pardos estão em regime de informalidade, ante 29,9% dos brancos. Autônomos e informais foram justamente os que mais perderam renda na crise. São setores que estiveram mais expostos à circulação, pessoas mais vulneráveis e que não puderam ficar em casa e necessitaram ir às ruas para ganhar seu pão. Há uma associação muito clara entre desigualdade racial, o aumento da vulnerabilidade desses grupos à pandemia e a esmagadora maioria de negros e pardos no trabalho informal.
Bolsonaro a favor da pobreza
Com a crise econômica se aprofundando, temos um governo que atua a favor da pobreza. Para ampla maioria da população brasileira, as políticas econômicas do governo de Jair Bolsonaro, ao lado do ministro Paulo Guedes, favoreceram (muito ou um pouco) grandes empresários (69%) e banqueiros (68%). Além disso, mais da metade (51%) também afirmou que a atual gestão é prejudicial aos trabalhadores.
Os números fazem parte de uma prévia da pesquisa “Conjuntura Política e corrupção financeira”, realizada pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), fundado pelo economista Eduardo Moreira e divulgada no fim do ano passado.
A redução da pobreza/das desigualdades (44%) também aparece no topo da lista dos destaques negativos de Bolsonaro e Guedes. O combate à pandemia (44%) também divide o topo entre as áreas que a atual gestão tem o seu pior desempenho, de acordo com os entrevistados.
Fonte: APUB