O perfil racial dos estudantes da Universidade Federal da Bahia corresponde quase plenamente à composição racial do estado. Em 2018, mais de 75% dos alunos eram negros na UFBA, diante de 76,7% de negros da população do estado, segundo a PNAD/IBGE. A pesquisa permite estimar ainda que 62,3% dos alunos são mulheres, acima do percentual nacional (54,6%).
Se parássemos as análises por aqui, poderíamos dizer que a população negra conseguiu alçar patamares importantes de igualdade racial. Mas não é bem assim.
Apesar do ingresso no ensino superior, a população negra ainda enfrenta o racismo estrutural que impõe muitos desafios ao longo da graduação e, principalmente, quando chega ao mercado de trabalho.
Quase 70% dos estudantes da UFBA, por exemplo, têm renda familiar média per capita de até um salário-mínimo e meio. A preocupação com a sobrevivência pode afetar a vida estudantil de diversas maneiras.
Nove em cada dez alunos da UFBA relatam enfrentar alguma dificuldade que interfere diretamente em sua vida ou no contexto acadêmico. Entre as mais frequentes estão dificuldades financeiras (29,5%), problemas emocionais (28,4%), carga excessiva de trabalhos estudantis (26%), tempo de deslocamento para a universidade (25%) e problemas de relacionamento familiar (18,4%).
E no cotidiano acadêmico, as diferenças econômicas e sociais podem passar despercebidas pela comunidade. Segundo o estudo “Cotas na UFBA: percepções sobre racismo, antirracismo, identidades e fronteiras”, a pesquisadora Nadja Ferreira revelou que o racismo é mais percebido pelos estudantes da UFBA do que por outras categorias. E a permanência de estudantes cotistas é um dos grandes desafios da política de ação afirmativa dentro da universidade – sem falar na desproporcionalidade da presença de negros em alguns cursos.
E se a Bahia possui uma população negra expressiva, a fatura do passado colonial e escravista não tarda em chegar para reproduzir a desigualdade racial de diversas formas. Mesmo com qualificação, a população negra ganha 36,3% menos do que brancos na Bahia.
Cenário nacional
Diante de um cenário de agravamento da crise econômica e desemprego, causada pelo desastroso governo de Jair Bolsonaro, os negros são os mais afetados.
Atualmente, são a maioria entre os desempregados no país, de acordo com PNAD Contínua. Em 2020, eles representavam 72,9%, de um total de 13,9 milhões de pessoas nessa situação. De acordo com o levantamento, 11,9% eram pretos e 50,1%, pardos.
Portanto, quando se trata de enfrentar a desigualdade racial, ampliar as vias de acesso ao ensino superior e ao mercado de trabalho com salários e condições equiparados é só o primeiro passo.
Combater o racismo estrutural e atuar diuturnamente para transformar as relações sociais são elementos fundamentais para construir uma sociedade mais justa, humana e igualitária.
É por isso que 20 de novembro é o dia da consciência negra no Brasil, instituída por lei em novembro de 2011, no governo de Dilma Rousseff, como uma data que tem caráter histórico mas que é também um chamamento para que a sociedade não seja e nem esteja indiferente com o que acontece ao entorno da sua própria realidade, com reflexões sobre o passado, o presente e o futuro na construção das ações afirmativas que criem novas perspectivas sociais, no combate à discriminação e superação das desigualdades.
Fonte: APUB