A violência contra a mulher ainda é uma realidade dentro das universidades

Apesar do processo de entrada de mulheres no ambiente acadêmico, elas permanecem enfrentando a desigualdade e a violência de gênero em todos os níveis

As mulheres são maioria no ensino superior brasileiro. Em 2020, 838.152 mulheres ingressaram em uma universidade e 518.339 concluíram a graduação contra, respectivamente, 668.996 e 359.890 homens.

Os dados, divulgados em fevereiro de 2022 são do Censo da Educação Superior 2020, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC).

Isso significa que, após anos de lutas por emancipação, elas conseguiram finalmente efetivar o direito ao estudo. No entanto, apesar da ampliação do acesso feminino, a cultura patriarcal ainda permanece fortemente arraigada no ambiente acadêmico – que, supostamente, deveria ser um lugar de pressupostos igualitários.

Nas universidades, o cotidiano das mulheres é permeado por todas as formas de violência, desde as mais sutis até a agressão física e sexual.

Pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense (UFF) apontam práticas como falas ouvidas, cartazes expostos, abordagens inadequadas e inapropriadas, várias formas de discriminação e violência contra as estudantes e docentes.

Outro estudo da UNB revelou, por exemplo, a discriminação com mulheres que estudam em cursos considerados “masculinos”, como da área de Exatas. A pesquisa aponta que estudantes possuem suas capacidades subestimadas pelos seus parceiros de curso, pois eles acreditam que as Exatas “não são coisas de mulher” e, consequentemente, praticam a desqualificação intelectual.

No ambiente acadêmica, essa prática deve ser lida também como uma violência, pois gera danos psicológicos a quem a sofre. Importante ressaltar que os homens também são passíveis a sofrerem uma desqualificação intelectual ou um assédio verbal, por exemplo. Porém, a razão que motiva tais atos muito provavelmente não é pela condição de ser homem.

No caso das mulheres, as violências ocorrem justamente por elas serem mulheres, ou seja, por serem vistas como inferiores e alvo de controle, revela o estudo da UNB.

Até na Antártida

Quando se trata de pesquisas em campo, a situação é ainda mais alarmante. Levantamento feito National Science Foundation (NSF), principal agência norte-americana de financiamento à ciência básica, revelou a situação das mulheres que vão realizar pesquisas nas bases da Antártida: 72% das mulheres mencionaram o assédio sexual como um problema em sua comunidade, ante 48% dos homens. Para agressões sexuais, os índices foram de 47% para o público feminino e de 33% para o masculino.  

Desde 2013, vigora um código de conduta nas estações norte-americanas que proíbe expressamente abusos físicos e verbais, importunações, trotes ou intimidações. Mas há uma percepção de que as normas nem sempre são aplicadas: apenas 26% das mulheres e 46% dos homens afirmaram que os infratores são responsabilizados.

Por fim, existe uma crescente visibilidade dada às questões das mulheres, principalmente no que diz respeito às formas de violência de gênero. Diversas universidades possuem alguma forma de auto-organização das mulheres e/ou mecanismos de investigação e punição de casos por meio das vias institucionais.

Ainda assim, essa visibilidade e as medidas que chegam aos órgãos competentes não têm sido suficientes para superar uma posição discriminatória ocupada pela mulher na sociedade, dentro ou fora da universidade.

Fonte: APUB

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