Por que Bolsonaro quer destruir o cinema brasileiro usando a guerra cultural (e financeira)?

Por que Bolsonaro quer destruir o cinema brasileiro usando a guerra cultural (e financeira)?
Por que Bolsonaro quer destruir o cinema brasileiro usando a guerra cultural (e financeira)?

Para esconder o desastre de seu governo, marcado pelo retorno de milhões de brasileiros à fome, desemprego recorde e mais de 610 mil mortes por causa da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro mascara sua incompetência sob a lógica da agitação ideológica, colocando a cultura e tudo que advém dela como inimigos a serem enfrentados.

Em nome deste combate contra inimigos inexistentes, a censura e os incessantes ataques à classe artística se tornaram constantes.

A cultura, inclusive, já era um dos alvos de Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Basta lembrar das inúmeras fake news sobre a Lei Rouanet (mecanismo criado em 1991 para fomentar a arte e a cultura no país) que circulavam em redes de seus apoiadores.

Dotados de mais sensibilidade do que a média da população, os artistas (principalmente de televisão, cinema, teatro e expressões populares), em grande parte, se opõem às ideias extremistas. Por isso, também se tornaram alvos dos setores radicais (a ponto de serem agredidos nas ruas).

Mas por que Bolsonaro escolhe atacar a cultura e o cinema?

Porque cultura é tudo que o engenho humano produz de material e imaterial, com tradições que emanam de um grupo social, num determinado território. Acaba sendo o simbólico imaginário que habita o inconsciente coletivo da memória de um povo.

Via de regra, sem o estímulo constante, a imensa maioria da população não seria ‘naturalmente’ adepta a ideias extremistas (basta lembrar que o nazismo foi construído – e mantido – com base em muita propaganda e Jair Bolsonaro foi eleito – e é sustentado – com o determinante reforço da disseminação em massa de fake news e discursos de ódio).

E o cinema, assim como das demais artes que expressam a cultura coletiva de uma população, requer sensibilidade, conhecimento, inteligência, emoção, entre outras qualidades para poder expressar os significados de uma criação coletiva. Tudo isso poderia se caracterizar como a antítese do extremismo, que é a base do governo Bolsonaro.

A estratégia de sufocar economicamente o cinema

O extremismo do governo e de seus apoiadores é incapaz de gerar um conteúdo que possa ser apreciado pelo público não-extremista. Muito menos exportado para outros países. Redes de cinema e empresas de distribuição internacional dificilmente desejariam retransmitir conteúdos com base na visão de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores.

As diferentes expressões artísticas (de massa, popular e mesmo a ‘das elites’), em sua maioria, buscam valorizar aspectos da civilidade que confrontam o que há de pior na sociedade (justamente o que é expresso pelo extremismo propagado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores).

Nas últimas décadas, os filmes brasileiros mais premiados no exterior são marcados por uma visão crítica da sociedade. Os mais recentes propõem reflexões que incomodam o governo Bolsonaro. Aquilo que o mundo inteiro aprecia nas produções brasileiras é exatamente o oposto da visão dos extremistas.

Por isso, o governo tenta esvaziar ao máximo o apoio estatal à cultura. Por diversas vezes, o próprio presidente deixou claro que não quer investir no setor, muito menos no cinema brasileiro.

Com isso, vai na contramão dos países emergentes e também dos chamados ‘desenvolvidos’, onde o Estado tem participação ativa no financiamento das obras cinematográficas.

Para isso, Bolsonaro introduz sua guerra cultural em projetos de viés econômico.

Em 2019, apresentou um projeto de lei que previa, em 2020, um corte de quase 43% do orçamento do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). Recentemente, Bolsonaro seguiu avançando em seu projeto anticultural, quando apresentou o Projeto de Lei 3203/2021, que acaba com mecanismos de incentivo responsáveis pelo financiamento da indústria audiovisual.

O PL prevê cortes de alguns dos artigos mais importantes da Lei do Audiovisual, como aquele que concede dedução do imposto de renda do valor aplicado na produção de obras cinematográficas, além da extinção do Recine, responsável pelo investimento no parque exibidor (isto é, na construção, manutenção e abertura de novos cinemas).

Enquanto isso na Coreia do Sul…

Em oposição ao Brasil, é incrível como a Coréia do Sul tem produzido algumas das mais potentes críticas ao mundo atual. Produções como a série Round 6 e, principalmente, o filme O Parasita, vêm quebrando paradigmas no mundo inteiro.

É notável o resultado das políticas públicas do Estado sul-coreano para suas indústrias culturais. Conseguiram transformar o país num polo crescentemente de produção artística relevante – especialmente na complexa indústria cinematográfica (um caminho que o Brasil começava a seguir até o golpe de 2016, que iniciou o desastre que estamos vivendo ainda hoje).

O desenvolvimento da indústria cultural sul-coreana faz parte do projeto de desenvolvimento nacional estratégico e independente. Exatamente tudo o que Bolsonaro e as nossas elites mais odeiam.

Fonte: APUB

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