Nesta sexta-feira (12/9), o professor e coordenador da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (SUMAI/UFBA), Antônio Lobo (IGEO), lança sua mais nova obra “Biodiesel e renda camponesa: algoritmo da despossessão” sobre a produção de biocombustíveis, transição energética e a agricultura familiar no Brasil, fruto de mais de uma década de pesquisa e reflexão acadêmica. O Planetário da UFBA, em Ondina, será palco do evento que começará às 16h30, contando com duas sessões gratuitas para os presentes conhecerem o espaço e uma atração surpresa que participará do evento.
O livro propõe um debate crítico sobre como os agricultores são inseridos nesse processo. Para o autor, a temática é de interesse público. “Acho muito importante a leitura que todos/as possam entender a relação de exploração entre o grande capital, a partir de grandes empresas que controlam a cadeia produtiva, e os trabalhadores/as que de fato estão na ponta produzindo.
Confira a entrevista.
O que motivou a escolha da temática?
Esse livro é fruto de dois momentos importantes da minha formação. O primeiro foi o meu doutorado em Geografia Humana, na Universidade de São Paulo, onde eu produzi a parte central do livro na tese, discutindo o ‘Programa Nacional de Produção e Uso de Biocombustível’ no Brasil e a forma subordinada como o agricultor familiar camponês estava sendo inserido nele.
Ele é fruto também de quando eu atuei como pesquisador visitante na Universidade da Cidade de Nova Iorque. Onde, nesse segundo momento, utilizei para poder refinar o debate teórico, conceitual; para poder atualizar o conteúdo, com base nos dias atuais, nas mudanças climáticas e no desafio da transição energética.
O que é o Biodiesel e como é produzido?
O Biodiesel é uma fonte de energia. Você pode produzi-lo a partir de vários produtos, mas geralmente é a partir de óleos vegetais como: o óleo da soja, óleo do caroço do algodão e no caso da agricultura familiar do óleo da mamona, óleo do girassol, óleo do dendê e do amendoim. Assim como, o Biodiesel pode vir da gordura bovina, da gordura da carne, ou você pode até mesmo reaproveitar o óleo residual de frituras que utilizamos em casa.
No Brasil, a gente tem o ‘Programa Nacional de Produção e Uso de Biocombustível’, regulado por decreto presidencial, que determina seu funcionamento. A agricultura familiar com base nos regramentos do programa, no selo combustível social, entra como fornecedora de matéria-prima para o programa.
Qual principal crítica a respeito deste assunto o livro apresenta?
No livro, eu identifico pontos positivos e pontos negativos da cadeia produtiva e como a agricultura familiar camponesa está sendo inserida nesse processo. O principal ponto negativo: a cadeia produtiva do biodiesel no Brasil é marcada pela forte concentração econômica. Apenas dez empresas, entre nacionais e multinacionais, controlam cerca de 90% do setor, o que torna a participação da agricultura familiar camponesa marginalizada e subordinada às regras impostas por essas companhias. Nesse cenário, muitos agricultores deixam de produzir alimentos para o autoconsumo, para produzir a mamona, como no território de Irecê; mas não recebem o retorno esperado, tornando-se cada vez mais dependentes do programa.
Por outro lado, a produção de biodiesel representa um avanço positivo no campo da transição energética. Por ser derivado de fontes renováveis, o combustível é muito menos poluente que os fósseis, contribuindo para um modelo energético mais sustentável.
Como foi a escolha da capa do livro?
A capa dialoga muito com o conteúdo do livro, já que ela retrata bem a inserção do agricultor familiar camponês muito invisibilizado. Por isso seu rosto está propositalmente imperceptível, segurando o caroço da mamona, com as mãos bastante calejadas, devido a necessidade da lida dura no campo e do trabalho diário muito manual.